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| Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

A situação política brasileira continua complicada e, mesmo sendo ano de eleições majoritárias e proporcionais, não há expectativa de melhora no curto prazo, porque não se visualiza efetivo aceno de mudança pela urna, que é o caminho na democracia.

Os brasileiros costumam culpar os políticos pela inadequada condução do país e pelas mazelas existentes. Não deixam de estar certos, porém esquecem – ou não se conscientizam – que também são responsáveis, pois é o voto que define quem vai exercer o comando da política e do gerenciamento público. Se os mandatários não se revelam eficientes, é evidente que a responsabilidade é também de quem lhes concedeu o mandato através do voto. Todavia, pior que votar mal é a omissão, pois isso é renegar o direito de cidadania.

É histórica a tendência de o eleitor demonstrar sua insatisfação ou descrença votando em branco, anulando o voto ou simplesmente não comparecendo para votar. Essa tendência, recorrente em épocas de crises políticas, nos últimos tempos tem sido facilitada pelo uso das redes sociais, que potencializam a disseminação dessa insatisfação. Antes, o desejo era apenas pessoal, isolado. Agora, com o compartilhamento, a ideia vai agregando pequenos movimentos que se ampliam criando força e adesões. Circulam boatos e “correntes” na internet conclamando os eleitores a não comparecerem à votação, ou, se comparecerem, que votem em branco ou nulo. O resultado é preocupante.

Se os mandatários não se revelam eficientes, é evidente que a responsabilidade é também de quem lhes concedeu o mandato

Recentemente houve eleição suplementar para governador do estado do Tocantins. No primeiro turno, quase metade do eleitorado não optou por nenhuma das candidaturas: a abstenção, somada aos brancos e nulos, chegou a quase 50% dos votos. No segundo turno o porcentual foi ainda maior: quase 60%. Ou seja: o candidato vencedor não alcançou representatividade, não obteve apoio da maioria, foi eleito pela minoria. Fato semelhante ocorreu também em eleição suplementar para prefeito de Cabo Frio (RJ), em que o candidato eleito perdeu para os votos brancos e nulos.

Até nas pesquisas eleitorais nota-se essa atitude do eleitor. Consulta sobre o pleito presidencial divulgada na semana passada mostrou que as intenções de nulos e brancos variaram entre 22% e 35%. Nessa mesma pesquisa nota-se que, faltando pouco mais de três meses para a eleição, 59% dos eleitores não citaram intenção espontânea de votar em algum candidato.

Este é um reflexo do desencanto – e, por consequência, desinteresse – do eleitor com a política. Entretanto, isso não contribui para melhorar a situação.

Rodrigo Constantino: Onde foi que escorregamos? (publicado em 5 de julho de 2018)

Opinião da Gazeta: Democracia, confiança e conhecimento político (editorial de 4 de junho de 2018)

Desde que se consolidou o processo de redemocratização, após o regime militar, vem ocorrendo decréscimo no interesse participativo que tivera ponto alto em marcantes campanhas como a das Diretas Já. Parece que o povo se acomodou, acreditando que tudo estava resolvido. Sem movimentos fortes e permanentes, a vigilância enfraqueceu e, aos poucos, cresceu a deterioração dos valores e dos princípios éticos, até chegar ao ponto em que estamos.

E essa situação não será revertida senão com atitudes fortes, participação e cobrança. Ignorar o problema ou dele fugir é atitude leniente que só favorece os maus políticos. O eleitor não pode incorrer no erro de imaginar que votar branco, nulo ou se abster evitará que os maus políticos se elejam – ao contrário, esses mesmos que estão aí se reelegerão, ou virão outros de iguais propósitos, pois sabem que o povo está alheio. A resposta é votar, e votar bem, votar em candidatos com propostas sérias, que estejam comprometidos com os anseios populares e revelem responsabilidade cívica para com o país.

Todavia, isso não acontece de repente, não se resolve em cima da hora, na véspera da eleição, quando os esquemas já estão armados. Por isso tenho pregado, há muito tempo, a necessidade de efetiva participação em busca da verdadeira renovação, promovendo-se o expurgo da política viciada, alimentada por partidos cuja ideologia são alianças espúrias, interesses pessoais de lideranças negocistas que agregam, em suas bases, políticos com ideal interesseiro e aético, que depois levam esses maus princípios para dentro das instituições. E deve o eleitor ficar atento às siglas que mudam de nome para apagar a imagem corrompida, mas continuam a ser conduzidas com os mesmos questionáveis ideais.

Deve o eleitor ficar atento às siglas que mudam de nome para apagar a imagem corrompida

Defendo, também, que é necessário conscientizar e estimular a juventude, despertando-lhe o interesse em participar. Dia desses tomei conhecimento de dados que reforçam essa necessidade. O levantamento revela queda no voto jovem, queda no número de títulos de eleitor expedidos para jovens com idade entre 16 e 18 anos e que, até junho deste ano, só 40% dos jovens brasileiros nessa idade haviam tirado título de eleitor. O ingresso espontâneo no sistema eleitoral é normalmente entendido como indicador da vontade de participar politicamente dos rumos do país. A queda representa, portanto, a decisão de retardar esse direito.

É importante transmitir à juventude seu significativo papel político, pois a verdadeira política é um exercício diário, indispensável na democracia. Acredito que a partir do voto seletivo veremos o surgimento de novas lideranças depuradas, sem vícios e sem ideias ultrapassadas.

A efetiva mudança política não virá pelo equivocado tipo de protesto que menoscaba o direito do voto; virá, sim, pela valorização do voto e pela decidida participação cidadã. A omissão abre caminho aos oportunistas.

Luiz Carlos Borges da Silveira, empresário, médico e professor, é ex-ministro da Saúde e ex-deputado federal.
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