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Há anos, fala-se que o Brasil deu um grande passo educacional quando colocou 95% de suas crianças na escola. Mas ninguém diz que aumentamos pouco a porcentagem dos que terminam o ensino médio, nem que não estamos melhorando a qualidade da formação dos poucos alunos que chegam até o final da educação de base. Concentra-se o discurso no acesso, esquecendo-se o sucesso.

Comemoramos o aumento do acesso, mas não assumimos o fracasso do sucesso. A escola aumentou o acesso graças à Bolsa-Escola, à merenda, ao transporte, mas não aumentou a permanência, nem a aprendizagem. Acesso não é sucesso. Três letras mudam completamente o significado das duas palavras.

Para o acesso, basta existir uma escola, colocar alguns professores para olhar as crianças, pagar uma bolsa e garantir merenda. Mas as crianças com acesso não terão sucesso se a escola não tiver qualidade, se o aluno não aprender. Além do acesso, é preciso garantir freqüência, assistência, permanência e aprendizado. Só assim teremos a possibilidade de um dia festejarmos o sucesso.

A concentração apenas no acesso faz com que seja adotado o sistema de promoção automática, sem qualquer cuidado com o aprendizado. Alguns alunos ficam na escola somente até a hora da merenda; outros ficam até o final da jornada, mas com não mais do que três horas de aula, depois vão para casa, sem dever, sem carga de leitura, sem cobrança no dia seguinte.

A freqüência é irregular ao longo do mês e a evasão ocorre depois de poucos anos. O fracasso é absoluto, mas mesmo assim, o acesso é assegurado. Acesso é ter uma vaga em alguma escola; sucesso é freqüentar, assistir, estudar, ser aprovado, permanecer até o final do ensino médio e, acima de tudo, aprender.

Para o sucesso, o prédio tem de ser agradável e bem equipado, com professores na quantidade necessária, que tenham recebido formação de qualidade e mostrem dedicação – o que exige muito boa remuneração –, com um horário rígido a ser cumprido em sala de aula ao longo de todo o ano, com dever de casa e carga de leitura. Além disso, diante do quadro de pobreza, é preciso complementar a Bolsa-Escola até o final do Ensino Médio com a Poupança-Escola (um depósito, em caderneta de poupança, se a criança for aprovada no final do ano, para ser retirado apenas quando ela concluir o Ensino Médio – como funcionou no governo do Distrito Federal entre 1996 e 1998, e agora está para ser aprovado no Congresso Nacional, por iniciativa do Senado).

A Poupança-Escola complementa a Bolsa-Escola, evitando a evasão até o final do ensino médio, estimula o aluno a estudar para ser promovido e a ficar na escola até concluir seu curso básico. Aliando isso ao Programa de Avaliação Seriada (PAS), que seleciona o aluno por meio de provas durante o próprio Ensino Médio, dá-se ao aluno a expectativa da universidade desde a educação de base, com é feito no Distrito Federal, na UnB, desde 1996.

A condição preliminar para tudo isso é parar com o engano, as mentiras, a vergonhosa falácia publicitária de que acesso é sucesso. Acabar com o analfabetismo político e com a insensibilidade social que escondem a diferença que fazem três letras distintas. A maior causa do fracasso, apesar do acesso, é que mesmo os letrados ignoram a diferença entre acesso e sucesso. Ou percebem, mas preferem manipular as letras, desconhecendo que acesso é diferente de sucesso, e com isso deixando que milhões de jovens brasileiros atravessem seus estudos sem aprenderem a ler como deveriam.

Cristovam Buarque é senador.

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