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O Sínodo dos Bispos sobre a família no mundo contemporâneo concluiu-se recentemente, com a publicação do Relatório Final em 24 de outubro. A complexidade do tema enfrentou debates, esclareceu consensos, exigiu cuidado e profundidade nas abordagens.

Ao mesmo tempo em que se afirma o valor da família, a sua constituição com base no casal homem-mulher, a sua realização sacramental como aliança entre os cônjuges e a sua participação na vida da sociedade e da Igreja, também se evidenciam a complexidade e a dinamicidade das experiências familiares. O Sínodo não considera a família de modo estático, referida apenas ao ideal proposto no nível dos princípios, mas de modo dinâmico, referida às condições concretas em que as pessoas têm vivido suas experiências familiares, em diferentes vínculos interpessoais.

O Sínodo prima mais pela integração que pela exclusão dos casais em união civil e também de segunda união

Não se trata apenas de emitir um juízo sobre as famílias em face do ideal proposto pela fé (aliança estável e fecunda entre cônjuges sacramentalmente unidos), mas de exercitar um discernimento sobre as condições e os percursos a seguir, para que as pessoas – nas suas variadas relações e formatos de família – se sintam acolhidas e motivadas pela Igreja a trilhar um caminho de aprimoramento afetivo e compromisso conjugal cada vez mais próximo dos ideais de felicidade, fidelidade e fecundidade propostos pelo matrimônio cristão. Neste caminho, o Sínodo inclui tanto os casais em união sacramental quanto os casais em união civil e os de segunda união (divorciados ditos “recasados”): cada qual, nas condições em que se encontra, é convidado a aprimorar cristãmente sua relação, avançando passo a passo no amadurecimento conjugal-familiar, aproximando-se o quanto possível da realização plena de uma vida em família, conforme os princípios da união estável e integrada na comunidade eclesial.

Esta atenção às condições e ao protagonismo dos sujeitos, na sua variedade, pede da Igreja uma atitude que favoreça o acolhimento, o diálogo e o acompanhamento das famílias, com itinerários adequados aos diferentes casos. Isso inclui as questões de gênero, a homossexualidade, as crises conjugais, os processos de adoção etc. A Igreja é chamada a ser acessível, com responsabilidade e misericórdia (cf. Relatório Final, 55). O fato de alguém viver em segunda união, por exemplo, não o exclui de toda a vida eclesial: trata-se de uma pessoa batizada, com direito de acesso à Palavra de Deus e à caridade pastoral, chamada a frutificar em fé, esperança e caridade, com espaço em determinadas funções na Igreja.

Neste sentido, o Sínodo prima mais pela integração que pela exclusão dos casais em união civil e também de segunda união (cf. Relatório Final, 84-86). Espera-se que tal discernimento acelere a resolução de casos em que será possível a participação da comunhão eucarística, como os casais em união civil estável que peçam a santificação de seu relacionamento e inserção plena na Igreja, e aqueles casais vindos do divórcio, que vivem agora unidos, quando se verificar canonicamente a nulidade do casamento anterior. Aliás, o papa Francisco agilizou os procedimentos de exame e declaração de nulidade, em respeito a tantas pessoas que esperam contrair, enfim, o matrimônio sacramental, superada uma experiência a dois por vezes dolorosa.

Chegou a hora de se conhecer e compreender as diretrizes do Sínodo, para que sejam aplicadas em total respeito ao espírito de acolhida, discernimento e integração que as inspirou (cf. Relatório Final, 77-83).

Marcial Maçaneiro, padre da congregação dos Sacerdotes do Sagrado Coração de Jesus (dehonianos), é teólogo e professor da PUCPR.
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