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É a maior onda de migração na Europa desde a Segunda Guerra Mundial. Neste ano, mais de 200 mil imigrantes entraram na União Europeia cruzando as fronteiras da Hungria, solicitando asilo. O número poderá alcançar 400 mil ou 500 mil até o fim do ano. Este número é dez vezes superior ao verificado no ano passado. Para entender a dimensão da crise: é como se o Brasil tivesse de receber, cadastrar e auxiliar 8 milhões de imigrantes e refugiados durante um ano. A Hungria – com uma população pouco menor que a do estado do Paraná – deve controlar e defender as fronteiras externas da União Europeia naquela região (como signatária do Acordo de Schengen), cadastrar todos os imigrantes e refugiados que entram por lá (como prescreve o Regulamento de Dublin), fornecendo-lhes abrigo, comida, bebida, assistência médica, ajuda financeira, além de processar seus formulários de solicitação de asilo. Só na fronteira com a Sérvia, a Hungria tem sete pontos de entrada. Todos os que solicitam asilo podem entrar por ali. Os requerentes são conduzidos pelas autoridades aos centros de acolhimento, onde recebem toda a ajuda humanitária necessária, apesar das dificuldades logísticas que isso certamente representa.

Os húngaros não são intolerantes porque, infelizmente, sabem muito bem o que significa ser refugiado

Mas muitos passam pela fronteira ilegalmente, orientados por traficantes, e consequentemente não chegam aos pontos de entrada oficiais, não se dirigem aos centros de acolhimento, recusam-se a fazer o registro e não cooperam com as autoridades. Auxiliar essas pessoas é uma tarefa muito mais complicada, dadas suas motivações e a capacidade das autoridades em identificá-las. Adicionalmente, tumultuam e prejudicam o atendimento àqueles regularmente registrados. A cerca, tão mal vista por quem não conhece o processo, é para proteger os imigrantes também. A Hungria construiu uma cerca na fronteira com a Sérvia para proteger a fronteira da União Europeia, e também para encaminhar os imigrantes até os pontos de entrada legais. Essa medida é conhecida e internacionalmente aceita: Espanha, Grécia, Bulgária e Estados Unidos têm cercas também.

Outro fato a ser esclarecido diz respeito à atitude dos húngaros para com os imigrantes e refugiados. A Hungria recebe todos os refugiados e imigrantes. Ao contrário do que foi publicado na imprensa, os húngaros não são intolerantes porque, infelizmente, sabem muito bem o que significa ser refugiado. Antes de 1990, quando a Cortina de Ferro foi eliminada, centenas de milhares de húngaros fugiram da Hungria por motivos políticos e sociais, decorrentes do regime vigente na época. A nação húngara é, até hoje, muito grata aos países que os acolheram, incluindo o Brasil. Já nas últimas duas décadas e meia, em regime de plena liberdade, a Hungria concedeu asilo a milhares de pessoas vindas de outros países. As autoridades húngaras auxiliam todos que chegam e estão fazendo isso além dos seus próprios limites. Nos centros de acolhimento, a Hungria oferece água e alimentos, atendimento médico, assistência social e ajuda financeira. Uma operadora de telecomunicações chegou a fornecer wi-fi gratuito aos imigrantes. Só para comparação: o salário mínimo dos húngaros é o equivalente a R$ 35 por dia, enquanto o atendimento a cada imigrante custa o equivalente a R$ 43 diários.

Os incidentes lamentáveis que apareceram na imprensa são muito raros e rapidamente investigados pelas autoridades. Apesar do grande número de pessoas, não houve nenhum caso grave de violência; os centros de acolhimento nunca foram ameaçados ou atacados. O caso do caminhão encontrado na Áustria com 71 imigrantes ilegais mortos demonstra a natureza das tragédias que podem acontecer quando traficantes de pessoas tentam ludibriar refugiados alimentando a esperança de burlar as regras estabelecidas.

É necessário atuar nas raízes da crise, não apenas remediar as consequências, começando por ajudar a pacificar os países de origem. A comunidade internacional precisa ajudar a estabilizar os países de origem (no caso, a Síria e o Iraque), tanto política como economicamente, além de mudar as condições que levaram à migração em massa. Foi esse o motivo pelo qual a Hungria decidiu enviar tropas para lutar contra o Estado Islâmico. O primeiro-ministro húngaro propôs que a União Europeia aumente seu orçamento em 1% para auxiliar com 3 bilhões de euros os países vizinhos da Síria a fim de criar melhores condições para os refugiados, em locais mais próximos às suas origens.

Por outro lado, a Hungria propôs uma conferência internacional com o objetivo de fortalecer a cooperação com os países de trânsito, situados na rota migratória dos Bálcãs Ocidentais. A Hungria está fazendo a sua parte, promovendo o fortalecimento do controle das fronteiras da União Europeia, para que o maior fluxo migratório das últimas décadas chegue aos países de acolhimento de forma segura e legalmente prevista.

Norbert Konkoly é embaixador da Hungria no Brasil.
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