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Na última semana, o youtuber Felca fez o Brasil refletir sobre um dos maiores problemas existentes na atualidade, que destroem a infância e a adolescência de muitos jovens, na chamada "adultização". Estes jovens são incentivados, em alguns casos pelos próprios pais e responsáveis, a produzir conteúdo nas redes sociais com conotação sexual — muitas vezes explícita.
O dinheiro proveniente de monetizações os transforma em escravos e os torna alvo fácil para pedófilos, deixando este futuro adulto suscetível a vícios em álcool e drogas, depressão e até mesmo ao suicídio.
A adultização não é a causa, mas o efeito de um planejamento de destruição da infância, organizado de maneira planejada por engenheiros sociais
Com o advento da internet, crianças e adolescentes têm acesso aos mais diversos tipos de conteúdo, o que encurta distâncias e abre um mundo de conhecimentos e oportunidades.
Porém, essa realidade pode destruir a fase de construção do ser humano rumo à vida adulta, fazendo com que este seja escravo do material e do fálico na busca dos prazeres humanos. É algo que passa também pelo tipo de conteúdo acessado por este público e pela forma como burocratas e membros da elite brasileira usam a cultura como instrumento de dominação das massas.
Nos anos 1980 e 1990, as redes de TV abertas dedicavam parte de sua programação ao público infantil. Muitos de nós assistimos a desenhos animados e programas infantis em canais como Globo, Manchete e SBT.
Este conteúdo era viável não apenas pelos bons índices de audiência que garantiam a estes canais nas medições do IBOPE, mas também pelo anúncio de propagandas voltadas ao público infantil; a receita dos canais de TV aberta se dá principalmente pela captação de anunciantes no mercado publicitário, e a divisão destes recursos se dá de acordo com o público que liga suas televisões.
Contudo, a ideia defendida por Friderich Hayek em seu livro "Os Erros Fatais do Socialismo", da chamada "arrogância fatal", onde o Nobel de Economia em 1974 define com este termo governantes, planejadores centrais, burocratas e integrantes das elites intelectuais e financeiras que usam do seu poder e influência para tentar planejar um mundo ideal para toda a sociedade, ignorando as condicionantes de mercado e a complexidade dos sistemas sociais, se apresenta à mesa neste tema.
Em 2014, o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA), atendendo à pressão de ONGs como o Instituto Alana — comandado por Ana Lúcia Villela, herdeira do Banco Itaú e detentora de um patrimônio de mais de R$ 5 bilhões —, lançou mão da Resolução nº 163, que praticamente proíbe a publicidade infantil, com a alegação de que a publicidade voltada a crianças e adolescentes poderia causar ansiedade, frustrações e obesidade.
Desde a validade desta Resolução, o tamanho da grade voltada ao público infantil na mídia reduziu-se de quase 26 horas diárias, somando-se a programação das principais emissoras de TV Aberta em 2012, para apenas pequenas aparições nas grades do SBT e das TVs Públicas, como a TV Brasil e a TV Cultura, afetando principalmente o acesso dos mais pobres.
As crianças mais ricas continuam acessando conteúdo próprio para sua idade por meio de canais por assinatura e plataformas de streaming, enquanto as mais pobres recebem uma enxurrada de conteúdo impróprio nas redes e na própria TV.
Considerando a situação econômica do Brasil, se uma família adquirir os planos mais baratos das seis principais empresas de streaming em atuação no país (Netflix, Prime Video, Max, Disney+, Paramount+ e Globoplay), gastará 7,5% do salário mínimo por mês; este valor não leva em consideração a mensalidade de uma TV por assinatura, que poderia elevar tal cálculo.
Devemos levar em conta que 47% da população brasileira sobrevive de benefícios assistenciais e pensões de aposentadoria; o valor impacta diretamente no orçamento das famílias, que ficam entre garantir o alimento na mesa e proporcionar um melhor acesso a conteúdos culturais.
Andrew Fletcher, político e pensador escocês do século XVIII, recitava a célebre frase "deixem-me compor as canções de uma nação e não me importa quem faz suas leis", apresentando a importância do ambiente cultural na formação de uma nação; Giambattista Vico, contemporâneo de Fletcher em Nápoles no mesmo período, apresentava que a cultura de um povo constrói-se da mentalidade coletiva, e a difusão da arte não deveria ser apenas um privilégio das elites.
Em contraponto a estes pensadores e à lógica econômica, as elites brasileiras, cada vez mais adeptas de uma ideologia que fusiona o positivismo de Auguste Comte e o marxismo woke de Judith Butler, Sulamith Firestone, Jean-Paul Sartre e Frederik Pollock, aplicam o ideário de conduzir uma nação com as chamadas "cabeças pensantes".
Aplicam ideias da nova esquerda como ambientalismo xíita, revisão de padrões de gênero, relativização do papel familiar na sociedade e sexualização precoce, visando prender as camadas mais populares da sociedade em um calabouço.
Nelas, não conseguem acessar o metafísico e tornam-se animais visando garantir a sobrevivência financeira e a satisfação sexual, em uma aula de mentalidade anticapitalista emocional visando garantir as hierarquias antigas, segundo mostra Ludwig von Mises em seu livro "A Mentalidade Anticapitalista".
Cada vez mais, observamos que a destruição da infância passou a ser um projeto de poder de muitos. Em diversos versículos das Sagradas Escrituras, o ensinamento de proteger os mais jovens se faz presente: para citarmos alguns trechos, em Mateus 15:6, Jesus Cristo reitera a gravidade de prejudicar uma criança; em Marcos 10:14, Cristo reconhece o valor espiritual da infância; em Provérbios 22:6, garante-se a defesa da educação e da formação moral daquele que está em juventude; em Efésios 6:4, orienta-se o cuidado respeitoso e o ensino saudável; e em Mateus 18:3-4, a infância é apresentada como exemplo de pureza e humildade.
Em um momento como o que nós atravessamos, as denúncias do Felca expõem o projeto de esfarelamento da cabeça de nossos jovens e escancaram o Brasil atual, onde parte dos integrantes das esferas de poder busca silenciar seus opositores em vez de proteger aqueles que realmente necessitam de proteção de sua inocência.
Chegou o momento em que os homens e mulheres de bem devam bradar em alto e bom som que os filhos de Deus não estão à venda.
Jefferson Viana é historiador e Assessor Legislativo na Câmara dos Deputados.



