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Imagem ilustrativa.| Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo

Em agosto é celebrado o Dia Nacional da Educação Infantil no Brasil. A data remete à etapa do ensino voltada à primeira infância e à época da vida em que o ser humano aprende tanto e todos os dias a ponto de se tornar o período da verdadeira descoberta do con(viver).

Outro dia, eu estava assistindo a um desses filmes que ligamos despretensiosamente e um dos atores mencionou algo que ficou latente em mim: ele disse que nunca estamos preparados o suficiente para nos tornarmos pais e mães. O que acontece é que, em determinado momento das nossas vidas, desejamos que isso ocorra a tal ponto que nos faz assumir o desafio da jornada.

Quando este desejo se torna viável, e a medida que a criança cresce dentro do ventre, crescem fora dele duas outras pessoas, que começam a cultivar expectativas sobre como cuidar desta nova vida. Dentre tantas decisões acerca da vida e rotina, uma acaba impactando a família significativamente, que é justamente o que fazer quando acabam os dias de licença maternidade e/ou paternidade. Nesse momento é chegada a hora dos pais voltarem seus olhos para uma escola de educação infantil.

As motivações que levam ao ingresso no ambiente escolar podem ser muitas, desde a necessidade de os pais em trabalharem em tempo integral, ou a vontade destes em proporcionar a socialização com outras crianças e adultos. Segundo a concepção do psicólogo Lev Vygotsky, a socialização é ferramenta essencial para aprender. No entanto, existe uma parcela de pais que busca respostas sobre de que forma seu filho ou filha aprenderá, ou seja, a escolha por uma escola que compactue com os mesmos objetivos que a família.

Mas, afinal de contas, o que se aprende na escola da educação infantil? Arrisco a dizer que as crianças vão aprender na primeira infância o que de fato não dará mais tempo quando elas completarem seis anos (ou seja, na idade do início do ensino fundamental). Dia após dia, na convivência com o grupo, aprendem que todos têm o direito de serem tratados com respeito pelas pessoas a sua volta, compreendendo desde muito cedo frases e expressões importantes como: “você pode me ajudar?”; “você me magoou!”; “muito obrigada”; e “desculpa”.

Na primeira infância, as crianças ainda aprendem a se expressar oralmente quando são encorajadas e se arriscam diariamente ao falar nas rodas e assembleias de turma, validando os sentimentos que despertam em si, como a felicidade, vergonha, tristeza, medo ou nojo. Também aprende a se calar quando o colega está contando uma experiência que ele tenha tido. Ou mesmo que quando perceber uma situação de discórdia com outra criança deve defender-se e chamar alguém que possa ajudar. Entende que mesmo nos dias chuvosos e frios é preciso seguir em frente com o compromisso de ir à escola, ainda que chegue um pouco molhado e mal-humorado, porque é assim que se aprende a respeito da determinação.

Aprendem ainda que não importa a potência que o pulmão e a garganta possam apontar o inconformismo, é necessário esperar a vez da roda, da brincadeira, da comida e do colo. Também percebem que um conjunto de vários “sims” não tornará a felicidade um elemento de tempo integral, e sim uma pessoa frustrada e incoerente. Por outro lado, aprendem que um conjunto de vários “nãos” tornará igualmente uma pessoa frustrada e incoerente.

É fundamental que percebam que não é obrigatório gostar de tudo o que as mãos tocam ou que os pés sentem, mas é essencial desenvolver o hábito de insistir e a experimentar as propostas sugeridas. Aprendem a importância de zelar pelos objetos individuais, caso contrário, podem perdê-los, se não forem devolvidos aos lugares corretos. Os alunos e alunas ainda descobrem que será sempre mais provável que o cardápio da escola seja tendenciosamente mais saudável do que apetitoso e que a insistência por provar novos sabores poderá levá-los a uma saúde plena.

Precisam aceitar o fato de estar muito bem na segunda-feira, mas resistir veementemente em colocar o uniforme na terça-feira, e que não há nada de errado com isso. Aprendem ainda que deixar os pais, avós, tias e/ou cuidadores do outro lado do portão da escola será dolorido todos os dias, mas, a cada tempo, um pouquinho menos. As crianças aprendem este montão de coisas que somente a primeira infância pode proporcionar e ainda ensinar aos pais, porque eles também estão aprendendo.

Carolina Paschoal é diretora da Escola Pedro Apóstolo.

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