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Imagem ilustrativa.| Foto: Antônio More/Gazeta do Povo

O tema do retorno às aulas assola e preocupa o país. Sua matemática é simples, porém nos pede algumas reflexões. Já se mencionou o risco da aglomeração, da proliferação do vírus, principalmente em educação infantil, em que o controle (logo, o risco todo) é assumido pelo professor. O retorno definitivo às aulas, em escala nacional – mesmo que seguidas todas as regras de precaução – ocasionaria um salto galopante na curva dos casos, internações e óbitos. Refiro-me, evidentemente, às universidades e ao ensino público.

Sendo estudante de Letras, a sala de aula é uma extensão do meu corpo. É com dor que minha honestidade se posiciona. Defendo sempre a sala de aula; a punhos, sangue e linhas. Defendo-a porque a amo profundamente. Mas defendê-la, hoje, em escala nacional, é condenar o que ela mesmo ensina: a viver. Educação e vida, a mim, são um pleonasmo.

Sei que existe um pesado e inflado sistema por trás do que não digo. Mas, neste momento em que a curva da Covid anuncia um agravamento, o que necessariamente estaremos ensinando aos nossos jovens estudantes deste país se os colocarmos na trincheira desta guerra?

O ideal da educação, hoje, é a distância.

Sejamos humanos, e sei o quanto isso é tarefa difícil a nós. Neste 2020, nossas crianças e jovens aprenderam muito sobre a matéria prima da educação: a vida. Que os pais saibam, na didática de educar, prová-los.

2020 não foi um ano perdido. Engana-se a voz pública que o afirma. Foi uma aula de sobrevivência que somente a escola do mundo é capaz de dar. Sem matrículas, sem boleto: a realidade crua que reside por baixo dos panos do capital. Lições assim são majestosas. Devem ser trabalhadas em sala de aula; devem ser semeadas.

Em relação aos professores, e alunos: meu alento. Entendo perfeitamente a angústia dos que, hoje, se equilibram na corda bamba da sobrevivência. Não me peçam, digo, para escolher entre a unha e a carne: é de vida que estamos falando.

Escolhi o rumo da educação como jornada de obra, de vida. Os tempos são difíceis, e difíceis tempos formam grandes sujeitos. Florescem grandes ideias: grandes ideias geram grandes mudanças.

Às escolas que retornaram: saibam extrair o máximo disso dos alunos. Vejo uma onda pandêmica se aproximar desta terra tupiniquim. Que a “nossa” (me permitam a honra) classe discente só mergulhe nos estudos.

As aulas, em sua totalidade, voltarão; a paciência é a virtude do tempo. Primeiro, cuidamos da vida. Depois, em aula, salvamos as almas.

Guilherme de Azevedo Filho é estudante de Letras e escritor.

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