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O aleitamento materno é um assunto bastante recorrente quando falamos na saúde do bebê. Quase todo mundo já ouviu falar de seus benefícios e sobre sua recomendação. O leite materno deve ser o primeiro alimento oferecido para o bebê, e o único nos primeiros seis meses de vida. Ele é totalmente adaptado às necessidades nutricionais da criança, promove o ganho de peso adequado, melhora a proteção da criança contra infecções, não apresenta contaminação e não leva a gastos financeiros com leites e mamadeiras.

A Organização Mundial da Saúde e o Ministério da Saúde recomendam que o bebê receba leite materno de forma exclusiva nos primeiros seis meses de vida, e de forma complementar até os 2 anos ou mais. Isto significa que, até os 6 meses, a criança não deve receber água, chá, outros tipos de leite ou sucos de fruta, entre outros; e que até os 2 anos a mãe deve oferecer leite materno para seu filho.

Mas não é simples conseguir amamentar segundo este ideal. A mãe deve se preparar desde a gestação para conseguir manejar o aleitamento materno, e o pai deve dar o apoio necessário nesse momento. Ao contrário do que se pensa, a mulher não nasce sabendo amamentar; portanto, ela deve aprender com seu filho e com o apoio dos familiares e dos profissionais de saúde. E não é fácil! São inúmeros os fatores que levam à interrupção do aleitamento materno.

Resultados de pesquisas científicas indicam que a introdução dos alimentos complementares, águas e chás antes do tempo recomendado pode induzir o desmame precoce. Isso também está associado à atuação dos serviços de saúde, à escolaridade materna, à classe socioeconômica, ao retorno precoce das nutrizes ao trabalho, ao uso da chupeta, à ausência do pai, à gravidez precoce, às cesarianas eletivas (com data pré-agendada), à separação precoce da mãe e seu bebê após o parto, à introdução de outro tipo de leite, ao baixo peso ao nascer e às crenças relacionadas ao aleitamento materno.

Atualmente, a entrada maciça da mulher no mercado de trabalho tem suscitado discussões acerca da real possibilidade que ela possui de amamentar, pois, se por um lado hoje ela pode ser trabalhadora, provedora do lar e chefe de família, por outro lado ela não dividiu as tarefas de casa e o cuidado dos filhos com o companheiro. A carga de trabalho excessiva dificulta a possibilidade de amamentar, pois ela não terá nem tempo nem energia suficiente para isso.

Sabemos que a mulher que teve um filho deve permanecer em licença-maternidade e, após retornar ao trabalho, tem intervalos para a amamentação. Isso certamente não abarca a trabalhadora informal, a que mora em grandes centros urbanos (e pega conduções que demoram uma, duas horas para chegar em casa) e a que trabalha em empresas que não têm creches próprias – ou seja, a maioria das mulheres.

Em sua atuação, os serviços de saúde ainda pensam naquela mulher que ficava em casa e cuidava dos filhos; não se adequaram à nova realidade. Os padrões sociais exigem da mulher que ela engravide e cuide do filho, mas também que ela seja trabalhadora, dona de casa, esposa amável e modelo de capa de revista. É muita coisa para uma pessoa só. É necessário pensar sobre as reais possibilidades, necessidades e desejos dessa mulher concreta: trabalhadora, dona de casa, mãe e muitas outras coisas.

Marcela Komechen Brecailo, nutricionista, mestre em Nutrição e doutoranda em Sociologia, é professora do Departamento de Nutrição da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro).

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