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Em uma época em que a urgência e o imediatismo substituíram a reflexão, em que as ideias devem ser expressas em 140 caracteres ou menos e reputações são construídas ou destruídas em poucos minutos ou segundos, o papa Francisco é um caso de amor à primeira vista. Aquela figura imponente, despida genuinamente de afetações, aparentando tranquilidade e segurança e fitando aquela multidão de católicos em júbilo na Praça de São Pedro é uma cena inesquecível.

E é um papa com uma compreensão clara da sociedade midiática em que reinará. Ou existe algo mais midiático que escolher um nome simples, sem a necessidade de um apodo, carregado de forte simbolismo: ele não é Francisco I, pois essa classificação só fará sentido quando, no futuro, houver um Francisco II; e de que Francisco ele está falando? Do de Assis, símbolo universal do despojamento e da dedicação aos desvalidos? Ou de Francisco Xavier, obstinado, aventureiro, que estendeu as fronteiras da fé cristã aos confins do mundo de sua época? Assunto para muito twitter, muito facebook, muitos blogs, podcasts, webcasts ou o que seja.

A cidade, o décor, o cenário também ajudaram. Roma é uma cidade absolutamente única, singular, que resume a existência humana. A beleza arquitetônica de milênios, o registro visual e inesquecível da arte elevada à perfeição, a capacidade de organização e de engenharia; e também a história mais completa e acabada do poder temporal, do Império, da dominação, da intriga, das conspirações e das cavilações; e, por que não, o cenário sombrio da crueldade, das vilanias, das perseguições religiosas, da corrupção humana; enfim, o microcosmo perfeito da história da humanidade.

E lá está Francisco, contemplando aquela maravilha e, possivelmente, parafraseando Napoleão: "Católicos: do alto das sete colinas, 28 séculos nos contemplam..." Não é um visitante maravilhado com a beleza, nem um político inebriado pela aclamação popular. É um homem de Deus, cujo roteiro – para nós, católicos – foi estabelecido pela Providência divina e cujo futuro será guiado pelo Espírito Santo.

O papa Francisco – ao que parece – é a figura certa para retomar a assertividade de João Paulo II, que aliava a serenidade aparente e o bom humor com uma determinação férrea. De novo as paráfrases: ao contemplar aquela multidão jubilosa, Francisco há de ter intimamente se lembrado das palavras desdenhosas de Stalin a respeito da importância do papado nas questões políticas: "De quantas divisões dispõe o papa?" As divisões de Stalin não resistiram ao carisma de João Paulo. As divisões da cizânia e das pequenas e grandes ambições e as grandes intrigas que passaram a fazer parte de sua vida não derrotarão o papa Francisco. Assertividade essa que a Igreja de Pedro perdera ao longo do pontificado de Bento XVI, que projetava a imagem de uma figura fisicamente fragilizada e acuada pelos problemas que se avolumaram à sua volta. Os primeiros gestos e palavras do novo papa demonstram isso.

Auguri, papa Francesco!

Belmiro Valverde Jobim Castor é professor do doutorado em Administração da PUCPR.

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