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A viagem da presidente Rousseff à China indica outro ponto de continuidade em relação à política externa de Lula, que transformou a China no maior parceiro comercial do Brasil

A atual visita da presidente Dilma Rousseff à China para a reunião do BRIC – grupo que reúne, além de Brasil e China, Rússia, Índia e, mais recentemente, a África do Sul –, tem vários significados importantes.

É necessário analisar a questão a partir de uma perspectiva mais abrangente, em que a presidente mantém uma linha de inserção internacional que apresenta similaridades em relação à anterior, ou seja, embasada na diversificação de parcerias, com foco nos países emergentes. O futuro da economia mundial, para muitos economistas, será definido pelo desempenho econômico dos BRIC. Se esses países consolidarem seus modelos de crescimento por mais algumas décadas, a economia mundial tende a acelerar sua recuperação após a crise iniciada em 2008 e a retomar seu forte padrão de crescimento dos anos anteriores. Se, por outro lado, os desempenhos piorarem, a estagnação econômica pode levar à necessidade de releituras mais profundas do equilíbrio econômico-comercial mundial.

A aproximação do Brasil com esses países é percebida por Dilma como fundamental para que o modelo de inserção internacional do país continue apresentando os bons resultados dos últimos anos. A aposta de Lula tem trazido bons ganhos e Dilma está disposta a continuar depositando fichas nas mesmas arenas.

Mais especificamente, a viagem da presidente à China indica outro ponto de continuidade em relação à política externa de Lula, que transformou a China no maior parceiro comercial do Brasil. A aproximação com a maior potência da Ásia, país que detém um terço das reservas globais em moeda estrangeira, é a segunda economia mundial e a que mais cresce entre os países poderosos é um dos principais focos da agenda exterior do Brasil. Apesar de não poder ser classificada como uma superpotência, pois militarmente ainda é muito fraca, não apresenta poder de atração à sua cultura e nem um modelo de inserção internacional, a China é um país com o qual todos os demais Estados precisam se relacionar.

O país asiático é a única potência econômica, atualmente, com grande capacidade de investimento no sistema internacional. A China tem investimentos em mais de 80 países, que somam cerca de US$ 59 bilhões e é uma das poucas opções de financiamento para o grande salto de desenvolvimento que o Brasil precisa realizar, com o intuito de consolidar o atual momento de crescimento econômico. Lula compreendia isso; Dilma também compreende.

Apesar dessas similaridades em relação à política externa de seu antecessor, Dilma Rousseff tem buscado ressaltar suas diferenças com Lula, o que se deve, dentre outros fatores, à necessidade política de dar uma marca própria à sua atuação exterior. Percebe-se essa intenção, por exemplo, nos constantes discursos que a presidente tem dado em relação aos direitos humanos, referindo-se aos regimes que não respeitam tais direitos como inaceitáveis. Mas o efeito prático dessas críticas deve ser nulo, pois se a mandatária acirrar o tom do discurso em relação à China, o que é improvável, a resposta dos chineses será óbvia: o Brasil também não é um grande exemplo de um país no qual os direitos humanos são devidamente respeitados. O discurso de Dilma, nesse sentido, é muito mais retórico e não trará grandes efeitos práticos em termos de melhora da posição internacional do Brasil.

Apesar das contrariedades de diversos setores nacionais, que criticam a aproximação do Brasil com a China, devido à incapacidade competitiva de suas indústrias, a aproximação com a mais importante economia dos BRIC é algo fundamental para que possamos garantir a manutenção de nosso desenvolvimento. As rusgas que surgirem durante o processo, seja devido à nossa incapacidade de competir com os chineses ou a posicionamentos ideológicos relacionados aos direitos humanos, precisam ser superadas para que o País acelere seu processo de desenvolvimento. Qualquer país do mundo que queira se inserir, em definitivo, nos mercados mundiais, precisa se aproximar dos chineses.

Juliano da Silva Cortinhas é coordenador de Relações Internacionais do Unicuritiba.

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