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Nunca acreditei na concentração de riquezas no setor público federal como o modelo ideal. Escândalos sucessivos comprovam esta descrença.

A União é uma ficção e a realidade é o município. Portanto, não sejamos hipócritas, o poder centralizado é perverso porque as pessoas não moram na ficção e sim no município onde vivem. Essa concentração de poder e dinheiro nas mãos da União faz com que ela seja a mina de ouro dos corruptos. Está aí o petrolão!

Brasília faz lembrar a figura mitológica do Leviatã, o monstro descrito no Livro de Jó. Em 1651, Thomas Hobbes escreveu sobre o Leviatã e, embora defendesse a centralização do poder, concluiu que um governo central é uma espécie de monstro que concentra todo o poder em torno de si, ordenando todas as decisões da sociedade, e que o poder absoluto não é ausência de arbítrio e, se não realizar os interesses dos homens, não atinge a paz social e se transforma no Leviatã – o monstro bíblico.

Quanto às empreiteiras, como as grandes obras estão concentradas no governo, se não fossem essas as envolvidas, seriam outras – aliás, os grandes fabricantes internacionais de metrôs acabam de ser indiciados junto com diversos servidores públicos. A atração de empreiteiros internacionais também não resolverá a questão, já que a corrupção tem dois polos, o ativo e o passivo; e, pelo que se depreende dos depoimentos à Justiça Federal, são os diretores de estatais que exigem propina. Eles serão substituídos por servidores internacionais?

O que está errado? E de quem é a culpa?

A economia de mercado sempre foi melhor que a economia do Estado

O modelo está errado. O governo federal concentra tudo, distribui pouco para os estados e municípios, e não satisfaz as expectativas do povo quanto aos itens básicos da educação, saúde e segurança. Só os oportunistas de ocasião não admitem que os polos se inverteram. Antes, as empreiteiras ocupavam o polo ativo da corrupção; a Operação Lava Jato mostra a posição inversa.

As revelações são estarrecedoras sobre a existência de uma organização criminosa instalada, verdadeira confraria.

Eis algumas das afirmações coletadas pela Justiça Federal: “A corrupção é a regra do jogo”; “Estou cansado de fazer papel de bandido, mas, se determinadas regras não mudarem, também não mudarei”; “Uma das grandes fontes de roubalheira é que as empreiteiras fazem as obras, mas o governo não paga. Quem quiser receber rápido deve apelar para o suborno e, por causa dos atrasos dos pagamentos e dos consequentes custos das propinas, o preço das obras sobe”; “Para muitas das empreiteiras é uma questão de vida ou morte e, para isso, entram em esquemas de pagamento de propinas e tráfico de influência”; “O dinheiro e as grandes obras estão concentradas e, para se ter obras e negócios garantidos, há de se pagar propinas. Ceder às aves de rapina é mais barato do que pagar juros extorsivos para os bancos”.

O Brasil precisa ser repensado e, já que vergonha na cara não se compra em farmácias, é preciso quebrar esse ciclo vicioso do toma-lá-dá-cá. A economia de mercado sempre foi melhor que a economia do Estado. Queremos um pais onde predomine uma economia primariamente estatal ou um mercado livre, sadio, independente e autorregulável, isento de tanta promiscuidade?

O monopólio estatal está teimosamente agonizando no meio dos escândalos. O ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa disse que “as irregularidades na Petrobras acontecem no Brasil inteiro, das rodovias às hidrelétricas”.

Infelizmente, no Brasil há dois pesos e duas medidas: a iniciativa privada quebra se for mal administrada e o governo repassa o ônus da sua incompetência através de aumentos de impostos. É o papel do Leviatã.

Eudes Moraes, empresário, é escritor e membro da Academia de Cultura de Curitiba.
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