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Principal produtora de petróleo do continente, a ultrapassar a África do Sul como maior economia regional, a Nigéria atrai investimentos e figura no plano global como vigésima sexta economia, na dimensão de seus mercados e crescente produto interno bruto. O sucesso econômico, no entanto, não se reflete em desenvolvimento, diante de realidade que convive com extremas desigualdades, agravadas por dramáticos confrontos étnicos e religiosos, a par de pobreza endêmica e corrupção generalizada de governantes.

Ameaça constante nesse cenário é ainda o próprio fundamentalismo islâmico, do grupo extremista Boko Haram, situado no norte do país e que utiliza violência e terrorismo para impor as regras da Sharia, com suas drásticas leis de fanatismo e de atraso. Em termos de crença religiosa, a Nigéria é país dividido entre cristãos e islâmicos, porém, com as mais diversas formas e profissões em ambos os lados, a causar discórdia e fragmentação.

Mesmo em sociedade acostumada com violência, cismas religiosas e extremismos de toda ordem, o recente sequestro de 276 meninas em Abuja constituiu episódio inédito, a chocar o mundo pela virulência e pela crueldade. A comunidade internacional tem reagido com indignação, sendo inúmeros os pronunciamentos que condenam o ato do grupo fundamentalista. É de lamentar nesse contexto que o Brasil não tenha ainda se manifestado para condenar sem meias palavras o ocorrido. As excelentes relações políticas e comerciais que o Brasil tem sabido estabelecer em todo o continente africano não autorizam o silêncio de Brasília sobre o lamentável episódio.

Práticas fundamentalistas e terroristas, infelizmente, tornam-se cada vez mais frequentes em nossa sociedade, com que grupos que atentam contra a dignidade das pessoas, com subterfúgios religiosos, sob a indiscriminada bandeira da violência e da maldade. Tem-se a recorrente repetição do que Hannah Arendt designou como a banalização do mal, a tratar dos campos de extermínio nazistas. Porém o mal se replica na constante renovação de mazelas inenarráveis que não cessam de ocorrer, mesmo com o final da Segunda Guerra Mundial e da subsequente Guerra Fria. Agora, o sequestro das meninas é mais um capítulo da triste saga do mal, de embate político entre fundamentalistas radicais e governantes impotentes. Parece certo que a motivação religiosa é apenas pretexto para um conturbado quadro de disputa de poder, em nada permeado pelas verdadeiras causas islâmicas.

Pode-se verificar, portanto, que o progresso econômico nem sempre se reflete em desenvolvimento social, a promover a paz e evitar o abismo social, como bem sabemos no Brasil. Constata-se que a Nigéria, ao tempo em que ocupa liderança econômica, não consegue superar barreiras para que possa almejar inclusive o combate à corrupção. Infelizmente, o triste episódio do sequestro das jovens bem demonstra a insegurança que domina a Nigéria, em que grupos extremistas violam regras comezinhas da civilização, a utilizar o islamismo como bandeira de discurso, para fazer oposição política ao governo e semear o caos. Necessário, portanto, que a comunidade internacional, que está atenta aos fatos, e também o Brasil, que parece não estar, posicionem-se de forma veemente, contra a barbárie e o atraso.

Eduardo Biacchi Gomes, doutor em Direito e pesquisador, é professor da UniBrasil, PUCPR e Uninter.

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