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Não há necessidade de alarme em relação a riscos oncológicos ou em relação a outras doenças que possam ser provocadas pelo silicone

Existem cerca de 300-400 mil pacientes, em mais de 65 países, que neste momento estão vivenciando um drama com suas próteses mamárias. Em sua maioria, pacientes submetidas a procedimentos estéticos com próteses de silicone francesas da marca PIP.

O problema dessas próteses veio à tona devido ao aparecimento de um linfoma anaplásico de grandes células (um subtipo raro e agressivo de linfoma) em uma paciente na França e a um índice de ruptura nesse tipo de prótese superior ao encontrado com as outras próteses existentes no mercado. Tais fatos levaram a uma investigação sobre o material que estava sendo empregado na sua fabricação e a uma nota de esclarecimento da Sociedade Francesa de Cirurgia Plástica e Estética.

A relação de causa e efeito com o linfoma é difícil de ser comprovada, até porque são muito raros os casos na literatura. Por outro lado, existe suspeita de que alguns produtos utilizados na produção industrial de borracha e de óleo, que não foram aprovados, nem testados para o uso em humanos, estejam na sua composição e é possível que eles possam estar associados aos problemas relatados, assim como uso de silicone industrial.

Existem três gerações de próteses de silicone, desde 1962. Basicamente elas evoluíram de um silicone de baixa coesividade, para moderada e atualmente são de alta coesividade. Na primeira fase, o envelope externo era liso. Atualmente ele é texturizado, ou seja, a superfície é rugosa e isso tem como finalidade tentar reduzir a contratura capsular, que é a reação que o organismo faz ao redor da prótese. A cápsula serve para isolá-la do resto do corpo. Espera-se que essa reação seja leve. Nos casos de reação moderada ou severa, é necessário intervenção cirúrgica para a correção ou retirada da cápsula, e nos casos extremos e dolorosos, a retirada definitiva da prótese.

Não existe relação entre o silicone e doenças neurológicas, do colágeno, ou a associação com câncer. É preciso frisar isso muito bem, pois o grau de desinformação na década de 90, a pressão da opinião pública americana, os processos milionários contra a indústrias de próteses (bem como contra hospitais e médicos) acabaram por levar o FDA a proibir as próteses de silicone para cirurgias estéticas naquela época. Os outros países do mundo mantiveram acertadamente o seu uso, inclusive o Brasil. Além disso, o silicone está na composição de diversos produtos da área médica, inclusive catéteres de quimioterapia, sem nenhum problema relevante até hoje relatado em relação ao surgimento de doenças.

A proposta inicial das próteses francesas era bastante interessante. Elas eram as únicas próteses assimétricas do mercado. Ou seja, a prótese para a mama direita era diferente da prótese para a mama esquerda, e a sua parede posterior era mais concava, o que poderia dar uma forma mais natural às mamas. No início, os custos até ficavam parecidos com as marcas tradicionais do mercado. A forma dessas próteses se enquadrava para a indicação em menos de 20% das mamas a serem reconstruídas após um câncer de mama.

No caso das cirurgias estéticas, sua indicação era para pacientes que queriam mamas com uma projeção mais acentuada na porção inferior da mama. Claro que ela era apenas mais uma alternativa às já existentes no mercado. É por isso que o seu uso, sobretudo no Brasil, não foi tão frequente.

Também é possível que nessa fase inicial, ou seja entre 2003 e 2004, as próteses fossem de qualidade semelhante às existentes no mercado, até porque foram aprovadas para uso na União Europeia e pela Anvisa, cujos critérios são bem rigorosos para que um produto seja aprovado.

A sensibilidade da ressonância magnética de mama para detectar rupturas subclínicas (cuja consequência clínica para a paciente é desconhecida e pode ser que não traga prejuízo maior) é de 95%. A recomendação do FDA é para que se faça uma ressonância magnética de mama a cada dois anos a partir de três anos da implantação da prótese.

Não existe consenso para as trocas de próteses mamárias. Na prática elas são trocadas no caso de resultados estéticos insatisfatórios, contratura capsular ou de rupturas. E a ruptura não é uma cirurgia de urgência, pois as consequências do silicone extravasado pioram ao longo de meses, não horas, dias ou semanas.

Portanto, não há necessidade de alarme em relação a riscos oncológicos ou em relação a outras doenças que possam ser provocadas pelo silicone. As pacientes que tiverem essas próteses francesas devem se dirigir aos seus médicos, realizarem uma avaliação clínica eletiva adequada, complementada com exames de imagem e, caso optem, podem trocar por próteses seguras, com as marcas existentes no mercado brasileiro, aprovadas pela Anvisa e que são as mesmas utilizadas em outros países.

Cicero Urban, mastologista e oncologista, é professor de Bioética e Metodologia Científica na Universidade Positivo.

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