• Carregando...

Certa devoção mariana, junto com inegáveis méritos, limitou-se a apresentar-nos uma Nossa Senhora muito distante de nós e do nosso mundo. Uma Nossa Senhora que viveu, sim, as vicissitudes também dramáticas da nossa vida, mas que não é plenamente nossa "companheira de viagem"  uma vez que não foi esmagada, como todos nós, por dúvidas, incertezas, angústias, tentações. Essa devoção se exprime também por intermédio daquelas imagens adocicadas e suaves que circulam até hoje e que não refletem o verdadeiro rosto da Mãe de Jesus.

A Maria do Evangelho é muito mais próxima de nós: percorreu um caminho de fé às vezes obscuro e cansativo, não entendeu tudo e rapidamente, pediu explicações ao anjo, maravilhou-se muitas vezes do que se dizia do seu Filho, em várias circunstâncias – notam-no os evangelhos – não entendeu as escolhas que Jesus fazia. O desígnio de Deus a respeito dela e a respeito de seu Filho permaneceu, também para ela,  misterioso e velado até que chegou a luz da Páscoa. Nos primeiros anos da vida da Igreja encontramos Maria inserida na comunidade que vive em Jerusalém e ali dá seus primeiros passos.

No início dos Atos dos Apósto­­los se diz que "os Apóstolos perseveravam unânime na oração, juntamente com as mulheres, entre elas Maria, mãe de Jesus, e os irmãos dele". Maria, portanto, não é um ser sobre-humano, mas é sim uma irmã que vive as alegrias e as dores, as angústias e as esperanças de todos os irmãos da comunidade. É esta irmã que hoje a liturgia nos convida a contemplar. O evangelho de hoje é o Magnificat de Maria, resumo da obra de Deus com ele e entorno a dela.

Humilde serva ela foi "exaltada" por Deus, para ser Mãe do Salvador e participar de sua glória, pois o amor verdadeiro une para sempre. Sua grandeza não vem do valor da sociedade que lhe confere, mas das maravilhas que Deus opera nela... "Um diálogo de amor entre Deus e a moça de Nazaré: ao convite de Deus responde o "sim"  de Maria, e à doação de Maria na maternidade e no seguimento de Jesus,  responde o grande "sim"  de Deus,  a glorificação de Sua serva.

Em Maria, Deus tem espaço para realizar maravilhas. Em compensação, os que estão cheios de si mesmos, não deixam Deus agir e, por isso, são despedidos de mãos vazias, pelo menos no que diz respeito às coisas de Deus. O filho de Maria coloca na sombra os poderosos deste mundo, pois enquanto esses oprimem, Ele salva de verdade. Essa maravilha só é possível porque Maria não está cheia de si mesma, como os que confiam no seu dinheiro e seu status. Ela é serva, está a serviço e por isso, sabe colaborar com as maravilhas de Deus. Sabe doar-se, entregar-se Aquilo que é maior do que a própria pessoa.

A grandeza do pobre é que ele se dispõe para ser servo de Deus, superando todas as servidões humanas. Mas para que seu serviço seja grandeza, tem que saber decidir a quem serve: a Deus ou aos que se arrogam injustamente o poder sobre seus semelhantes. Consciente de sua opção, o pobre realizará coisas que os ricos, presos na sua auto-suficiência, não realizam: a radicação doação aos outros, a simplicidade, a generosidade sem cálculo, a solidariedade, a criação de um homem novo para um mundo novo, um mundo de Deus. A vida de Maria, a seva" assemelha-se à do servo, Jesus, exaltado por causa de sua fidelidade Até a morte.

Dom Moacyr José Vitti CSS, arcebispo metropolitano.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]