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O autismo é um transtorno psiquiátrico descrito desde 1943 pelo psiquiatra Leon Kanner. É uma condição grave que afeta diversas áreas do desenvolvimento infantil, prejudicando, principalmente, as capacidades de interação social recíproca, da comunicação verbal e não verbal e do comportamento. Os prejuízos podem variar de formas leves a muito graves.

A criança ainda pequena pode apresentar, dentre muitas, as seguintes dificuldades: de manter contato visual direto com a mãe e as outras pessoas, interessar-se por outras crianças e gostar dos mesmos brinquedos ou brincadeiras. Há prejuízos na linguagem, como atraso ou ausência da fala, manifestação de um padrão repetitivo de interesses e atividades rotinas ou rituais inflexíveis, ou o hábito de agitar e torcer as mãos ou balançar repetidamente o corpo. A forma mais grave é a de isolamento total e indiferença às pessoas. Nas formas mais brandas, as crianças não procuram espontaneamente o contato social, mas aceitam ser procuradas sem oferecer resistência.

Estima-se que a prevalência do autismo infantil seja de 60 em cada 10 mil crianças, ou 0,5% da população mundial, na proporção de quatro meninos para uma menina. A causa do autismo é uma complexa interação entre fatores genéticos e ambientais.

Em maio de 2013, a Associação Psiquiátrica Americana apresentou novos critérios de classificação do autismo no Manual Estatístico e Diagnóstico 5. O autismo, agora, passa a integrar a categoria dos "transtornos do espectro autista", um dos transtornos do neurodesenvolvimento.

Embora seja um transtorno grave, conhecido há várias décadas, os transtornos do espectro autista ainda são pouco diagnosticados ou identificados com atraso. Boa parte dos casos é reconhecida quando o paciente já está com 3 ou 4 anos e perdeu um período importante de desenvolvimento em que o tratamento e a estimulação precoce poderiam oferecer um melhor prognóstico e melhor qualidade de vida para o indivíduo e para a família.

Durante o Congresso Brasileiro de Pediatria realizado em Curitiba em outubro passado, a residente de neuropediatria do Hospital Pequeno Príncipe Marília Matos aplicou um questionário a pediatras de todo o Brasil, avaliando o nível de informação sobre o autismo e seu diagnóstico. O resultado é preocupante, pois indica que mesmo entre especialistas da infância ainda existe desconhecimento sobre a doença: 13% deles, por exemplo, acreditam que a causa do autismo pode ser a falta de afetividade da mãe para com seu bebê, o efeito colateral de vacinas ou mesmo a reação a algum tipo de alimento.

Um recente estudo publicado no periódico científico Pediatrics demonstrou que, nos Estados Unidos, para uma família com um filho portador desse transtorno, os custos relativos aos cuidados de saúde, educação e terapias atingem US$ 17 mil, ou em torno de R$ 40 mil ao ano. É fácil imaginar as consequências desses custos para uma família brasileira.

Por tudo isso, nesse 2 de abril, Dia Mundial do Autismo, é imprescindível alertar a todos, inclusive médicos, em especial os pediatras, os profissionais de saúde e da educação e a população para a identificação precoce do autismo e a criação de centros especializados para o atendimento dessas crianças.

Marco Antonio Bessa, doutor em Psiquiatria pela Unifesp, é psiquiatra-chefe do Serviço de Psiquiatria Infantil do Hospital Pequeno Príncipe.

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