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"Destino não é uma questão de sorte, mas de escolha; não é uma coisa que se espera, mas que se busca." (William Jennings Bryan)

A escolha da profissão é uma decisão importantíssima na vida de cada jovem, afinal uma escolha errada pode trazer inúmeros problemas: experimentar estresse, desânimo e sentimentos de menos-valia durante o curso; abandonar o curso universitário para recomeçar a maratona do vestibular ou, ainda, ser tomado pela frustração ao trabalhar em tarefas que não trazem a menor satisfação. Quais são os requisitos fundamentais para escolher bem um curso e, conseqüentemente, uma profissão?

Essa escolha depende de diversos fatores e o primeiro passo é conhecer a si próprio. "Conhece-te a ti mesmo" é uma idéia que vem dos gregos antigos, mas ainda hoje todos concordam que o autoconhecimento é um dos grandes desafios da vida, talvez mais importante do que conhecer todas as maravilhas do Universo. Essa tarefa não é simples e conhecer-se integralmente não é possível, mas não tenha dúvida de que esse processo, por si só, aumenta a chance de viver melhor. Conhecer a si mesmo significa saber o que nos deixa alegres ou tristes; em que momentos algumas pessoas nos deixam irritadas; por que ficamos ansiosos diante de muitas pessoas; por que falamos coisas e nos arrependemos mais tarde ou o que ocorre para que nossos amigos nos magoem tão freqüentemente. Mas onde procurar essa consciência sobre si?

Essa consciência é a capacidade de descrever os próprios comportamentos, tanto ações quanto sentimentos e emoções, e, mais além, identificar as situações que os provocam. Enquanto o senso comum afirma que o isolamento é necessário para a tarefa do autoconhecimento, a idéia atual da Psicologia Comportamental defende que isso só pode ocorrer na interação com outras pessoas. A origem da palavra consciência vem do latim com-science e significa co-conhecimento, ou seja, "conhecendo com outros". Assim, o autoconhecimento não é ir para dentro de si mesmo, mas para fora, observar os outros, perguntar, descrever o que vem antes e depois de certo comportamento ou sentimento nosso, entender a imagem que passamos para outras pessoas. O nosso "eu" não é solitário, mas se faz a partir do outro, a nossa subjetividade está soterrada no mundo. Conhecer a si mesmo não é somente olhar para o espelho e nem é somente uma viagem interior, mas olhar a nossa imagem nos olhos dos outros.

Em verdade, quando mais sabemos do comportamento alheio, melhor compreendemos a nós mesmos, portanto, precisamos assumir um papel ativo nesse processo. Nós não somos seres predeterminados nem passivos, mas estamos em um processo constante de aperfeiçoamento. O autoconhecimento passa a ser uma ferramenta auxiliar para treinar autocontrole, mudar comportamentos e planejar o futuro. Assim, a escolha de uma profissão por exclusão nem sempre é correta. Por exemplo, achar que "advogados e psicólogos devem falar bem em público e eu sou tímido" não leva em conta a aprendizagem que temos durante o curso e o treinamento posterior. Por outro lado, gostar imensamente do seu cachorro não o faz necessariamente interessado em ajudar no parto de um bezerro, e ter interesse em cinema é muito diferente de trabalhar na produção de um filme.

É preciso avaliar constantemente as nossas forças e fraquezas, virtudes e limites. Conhecer-se não serve somente para se aceitar e ponto final. É claro que, se você tem 1,60 m de altura, e gostaria de ter 1,80 m somente resta aceitar o fato, ou usar sapatos de saltos muito, muito altos... Mas se você chegar à conclusão de que é muito tímido, ou indeciso, ou impulsivo demais em momentos de decisão, sim, é possível mudar! Pode não ser fácil, pode não ser rápido, mas é possível controlar o seu destino. O primeiro passo é tomar consciência, em seguida traçar objetivos e estratégias e até pedir ajuda, para família, companheiro, amigos, ou profissionais quando a mudança for mais séria.

A satisfação pessoal é fundamental em nosso trabalho, mas também é preciso avaliar áreas de conhecimento, mercado de trabalho e campos de atuação profissional assim como conversar com profissionais conhecidos e investigar aspectos menos evidentes das profissões. Por exemplo, há psicólogos que trabalham com pesquisas ou em laboratórios e que não precisam ter a habilidade de fluência verbal em público. Avalie o modo de vidas de diferentes profissionais e analise se é isso que você deseja para sua vida. Há algumas atividades que a maioria das pessoas gosta, como, por exemplo, ouvir música, discutir comportamento humano e filosofia e viajar, mas nem sempre isso indica que você quer fazer isso durante toda a sua vida de trabalho. Todo trabalho está ligado com rotina, mesmo aquele que a rotina é estar em outro lugar a cada dia, como pilotos de avião e jornalistas. Procure também conhecer profissões novas e não aquelas tradicionais e reflita de maneira consciente sobre o modelo ou a pressão familiar, sem deixar essa fonte de lado, pois os pais são pessoas que geralmente conhecem bem seus filhos.

O autoconhecimento é um processo tão primordial na vida das pessoas que está intimamente ligado aos processos de escolha. Para escolher melhor, comece conhecendo a si mesmo, um caminho que ninguém pode fazer por você.

Lídia Weber é psicóloga (CRP 08/0774), professora e pesquisadora do curso de Psicologia e do mestrado em Educação da UFPR, coordenadora do Núcleo de Análise do Comportamento e do "Projeto Criança: Desenvolvimento, Educação e Cidadania".

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