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Recentemente os jornais têm noticiado os resultados do Brasil no Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), promovido pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). As notícias têm focado principalmente a posição do Brasil no ranking dos países participantes deste sistema de avaliação.

Vale lembrar que essa avaliação é aplicada a cada três anos com estudantes de 15 anos, perto de concluírem o ciclo básico de ensino, para analisar até que ponto os alunos aprenderam conceitos e habilidades consideradas essenciais para a completa participação em sociedades modernas.

Neste ano, todas as notícias demonstram a evolução do nosso país na área de Matemática, que foi o objeto de análise desta edição do Pisa. Mas, ao mesmo tempo, é enfatizado o fato de estarmos "apenas" na 58ª posição entre um total de 65 países participantes, num nível de proficiência muito baixo para enfrentar as demandas do mundo atual.

No total, a comparação entre 2003 e 2012 inclui 60 países que participaram da prova nos dois anos. Nesse período, a média de desempenho dos estudantes brasileiros saltou de 356 para 391, um aumento de 35 pontos. No ranking de Matemática, com a nossa colocação ocupamos duas posições a menos que em 2009, e mais de 100 pontos abaixo da média dos países da OCDE, que foi de 494 pontos.

O ranking é inevitável, não pode ser proibido, mas vem assumindo uma significância excessiva no Brasil. Ele vem sendo usado para demonstrar que a educação no país é caótica, o que é questionável se nós tomarmos em conta apenas esta prova.

Um dos argumentos para nossa análise se refere à formulação das questões em nível central, sendo traduzidas em cada país participante e depois validadas pelos técnicos responsáveis. Em que medida uma prova com estas características consegue levar em conta o contexto brasileiro com a diversidade cultural, histórico-geográfica, social, econômica, dentre tantas outras existentes?

Além disso, uma prova (seja ela Pisa, Enem, Enade etc.) é apenas um dos elementos a serem levados em consideração. Por isso, olhar só o aspecto quantitativo é estreitar a análise e, com isso, corre-se sério risco de direcionar as ações de maneira equivocada.

Precisamos lembrar que, mesmo com as limitações acima citadas, não podemos deixar de levar em conta os resultados colhidos, tomando-os como elementos que direcionem as políticas públicas para a educação. Mas a direção adotada por grande parte de nossos sistemas de ensino (municipais, estaduais) tem sido imprimir níveis crescentes de controle sobre as escolas e os professores em direção contrária ao que fazem os países que estão nas melhores posições no ranking.

Este controle excessivo, inclusive determinando a distribuição de verbas para escolas com melhor "desempenho", vem direcionando as escolas a agir em prol dos possíveis resultados. Assim, currículos são alterados, novas metodologias são adotadas, as provas passam a ser semelhantes às do Pisa e, claro, a autonomia do professor é limitada cada vez mais. Desta forma, o objetivo da escola, em alguma medida, deixa de ser favorável ao estímulo para se interpretar o mundo que cerca os alunos a partir dos conteúdos trabalhados e começa a apenas treiná-los para que obtenham bons resultados nas avaliações externas.

Acreditamos que o papel da escola, muito mais do que ter sucesso nas avaliações externas, é preparar os jovens para interpretar o mundo e para que contribuam para as transformações que se fazem necessárias. Portanto, o sucesso neste tipo de prova deve ser consequência e não objetivo da escola.

Inge Suhr, mestre em Educação, professora e coordenadora pedagógica do Grupo Uninter

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