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O presidente dos EUA, Joe Biden, faz discurso de posse após prestar juramento, 20 de janeiro
O presidente dos EUA, Joe Biden, faz discurso de posse após prestar juramento, em 20 de janeiro.| Foto: Patrick Semansky / POOL / AFP

No início de seu mandato, Bolsonaro anunciou que o Brasil passaria a ter uma relação mais próxima com os Estados Unidos, retomando uma relação tradicional de parceria. Apesar das críticas, o presidente brasileiro seguiu firme em seu propósito, até esbarrar na derrota de Donald Trump nas eleições presidenciais de 2020. Joe Biden, adversário do republicano, havia sido eleito.

Perdido diante do cenário político, Bolsonaro optou por não reconhecer a vitória do democrata de pronto, esperando cerca de um mês até cumprimentar o vencedor do pleito. Mais do que isso, Bolsonaro corroborou a fantasiosa tese de Trump, vencida nos tribunais, de que as eleições americanas haviam sido fraudadas. Movimentos que certamente colocaram uma frutífera parceria em xeque.

O presidente brasileiro mostrou que, na verdade, sua aliança estava muito mais próxima da afinidade ideológica com Trump que com a nação americana. Isto foi sentido em Washington, onde existe o receio de que o Brasil se afaste dos Estados Unidos e procure países mais afinados com os valores trumpistas. Da mesma forma, este governo que chega não enxerga Bolsonaro com simpatia.

Os desafios para o Brasil serão enormes, não apenas pela mudança política adotada pelos americanos, mas pelos próprios erros de cálculo político do Palácio do Planalto

Americanos são acima de tudo pragmáticos; entretanto, depois de perder sucessivas oportunidades de posicionar-se ao lado dos Estados Unidos como nação, em vez de Trump como líder populista, o Brasil agora precisa recompor sua imagem. Fato é que Bolsonaro já declinou inúmeras ofertas de contatos reservados abertos por interlocutores de Biden. Uma janela de oportunidades que se fecha com a sua posse.

Diante disso, Washington tende a trabalhar com seus aliados naturais na região, países que ao longo de décadas mantiveram diálogo profícuo com os Estados Unidos, independentemente de qualquer partido que ocupasse a Casa Branca. A Colômbia sempre soube realizar este diálogo com inteligência, assim como o Chile, acompanhado neste momento pelo Uruguai. Na América do Sul, estes saem na frente como aliados preferenciais.

Os reflexos da política de Biden para a região também entram em conflito direto com a agenda de Bolsonaro, uma vez que a questão ambiental entra na pauta americana de forma determinante. Certamente, para avançar nesta frente, Washington pedirá demonstrações claras de cooperação de Brasília, um movimento que colide com a posição de confronto com as políticas de preservação ambiental adotadas pelo governo brasileiro.

Biden retornará com força para a política internacional multilateral, reintroduzindo os americanos em uma agenda global de concertação. Podemos esperar o retorno ao Acordo de Paris e maior participação em organismos desprezados por Trump, como Unesco e OMS. Uma agenda que também colide com a posição adotada por Bolsonaro, que inseriu a luta contra o globalismo destas instituições como seu foco de enfrentamento.

Ao fim e ao cabo, os desafios para o Brasil serão enormes, não apenas pela mudança política adotada pelos americanos, mas pelos próprios erros de cálculo político do Palácio do Planalto. Uma conta que pode sair muito cara para os brasileiros.

Márcio Coimbra, cientista político e mestre em Ação Política pela Universidad Rey Juan Carlos, é coordenador da pós-graduação em Relações Institucionais e Governamentais da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Brasília, ex-diretor da Apex-Brasil e diretor-executivo do Interlegis no Senado Federal.

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