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 | Marcos Oliveira/Agência Senado
| Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado

Em nota divulgada em 19 de junho de 2018 na Gazeta do Povo, o Conselho Regional de Economia do Paraná (Corecon-PR) rechaçou, de maneira veemente, as observações feitas pelo pré-candidato à Presidência da república pelo Partido Social Liberal (PSL), Jair Bolsonaro, em entrevista concedida para este mesmo veículo em 13 de junho. Apesar de reconhecer e demonstrar publicamente enorme déficit de conhecimento e capacidade de compreensão de aspectos relativos à economia, mesmo contando com apoio de um excelente e experiente profissional do ramo, o liberal Paulo Guedes, o postulante ao cargo de mandatário do país sentiu-se bastante confortável para imputar a responsabilidade pelas sucessivas crises brasileiras aos economistas e ao malogro de seus planos.

A figura de Bolsonaro, com forte probabilidade de passagem para o segundo turno no pleito de 2018, a julgar pelas sondagens dos institutos Datafolha e Ibope, expressa o desejo, manifestado por parcela nada desprezível da sociedade brasileira, de retorno de um regime político centrado no radicalismo de direita, materializado na participação ativa das instituições militares, defendida majoritariamente por agentes sociais detentores de noções bastante distorcidas do cotidiano nacional dos tempos da ditadura, vigente entre 31 de março de 1964 e março de 1985. O candidato tem se notabilizado pela intenção de não exposição a riscos ou de minimização das chances de rejeição, seja recusando a participação em sabatinas e outras ocasiões em que poderia ser pressionado por jornalistas e possíveis adversários, seja pela sonegação de informações detalhadas da plataforma de campanha e, principalmente, das propostas de medidas econômicas a serem executadas em caso de êxito eleitoral.

O primitivismo genérico empregado para desqualificar os economistas poderia ser aplicado a qualquer outra classe profissional

Na verdade, o primitivismo genérico empregado para desqualificar os economistas poderia ser aplicado a qualquer outra classe profissional. Mais precisamente, em algum momento Bolsonaro poderia culpar os professores pela falência da educação, os engenheiros e caminhoneiros pela deterioração da infraestrutura de transportes, os médicos pelo caos na saúde pública, os veterinários pela gripe aviária e peste suína, dentre outras metástases produzidas por mais um câncer político a ser extirpado pela democracia brasileira.

Considerando tratar-se de um ser destituído daquelas condições mínimas necessárias para a formulação e negociação de um projeto de nação, em suas múltiplas facetas, a despeito do potencial eleitoral aferido pelas instâncias de investigação do comportamento social, contestar Bolsonaro em posições assumidas em assuntos econômicos afigura-se tarefa tão fácil que poderia ser comparada a chutar animais raivosos mortos.

No entanto, é prudente apreender que o conteúdo da resposta emitida pela entidade de representação dos economistas traduz uma visão parcial e equivocada no que tange à presença e contribuição deste profissional nas ações de planejamento e construção do processo de evolução do capitalismo no Brasil e suas respectivas flutuações cíclicas, incluindo as marchas cadentes. Mais que isso: a defesa da tese de que o alcance da precária situação presente deriva da insuficiente participação de economistas constitui evidente falha primária de diagnóstico.

Leia também: O presidente de que o Brasil precisa (artigo de Edson José Ramon, publicado em 12 de junho de 2018)

Carlos Alberto Di Franco: O Brasil pode dar certo (publicado em 1.º de julho de 2018)

Não obstante a falta de percepção ou até negação do envolvimento direto de peças da categoria dos economistas em diversos episódios da marcha histórica do país – em muitos deles, em flagrante dissociação com os elementos mais elementares da ciência-mãe –, a iniciativa de reação imediata e corajosa do Corecon-PR deve ser louvada.

O engrandecimento da atitude do Corecon-PR é igualmente oportuno ao se observar que a mesma prontidão e empenho estiveram ausentes em abril de 2018, quando a autarquia federal revelou subserviência tácita à postura autoritária e partidarizada assumida pelo Conselho Federal de Economia (Cofecon), ao lançar uma carta aberta à nação que conclamava a insurreição contra o “estado de exceção” supostamente reinante no país.

Gilmar Mendes Lourenço é economista, professor da FAE Business School e ex-diretor-presidente do Ipardes.
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