• Carregando...

O governador Aécio Neves propõe que ele, o governador José Serra e as principais lideranças de seu partido iniciem um programa de viagens e debates Brasil afora para se aproximar da população e das lideranças locais, apresentar suas ideias, observar mais de perto os problemas nacionais. A ideia parece não ter agradado o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que teria achado desnecessário os governadores ficarem viajando para cima e para baixo em vez de trabalhar... De quebra, o ex-presidente também não se mostra simpático à ideia de realizar prévias eleitorais, também proposta pelo governador mineiro, preferindo o velho método da escolha do candidato presidencial pelo cardinalato do seu partido.

Penso de maneira exatamente contrária: está mais do que na hora da classe política retomar o contato com o Brasil real, o Brasil "profundo" – para utilizar um adjetivo que os franceses usam para definir o país real – e ultrapassar os limites de Brasília e da Avenida Paulista, que parecem ser a fronteira entre o que é o Brasil "sério" e o Brasil pitoresco. Digo retomar porque, quando não existiam as redes nacionais de tevê nem a internet, os políticos eram obrigados a fazer campanha corpo a corpo no país todo: o comício de Getúlio Vargas em Curitiba fez história, a pregação de Juscelino na campanha eleitoral de 1955 também; aliás foi em um debate no interior que ele, respondendo a uma pergunta, se comprometeu a construir Brasília. O próprio presidente Lula fez um périplo nacional que lhe foi extremamente útil para emprestar-lhe a dimensão de político nacional.

Como os jornalistas reagem aos fatos importantes? Primeiro, ouvem o governo. Se a notícia é boa, o presidente Lula está prontíssimo a deitar falação e esbanjar basófia; se o assunto envolve problemas e dificuldades, o presidente desaparece de cena e, em seu lugar, aparecem os indefectíveis Dilma Rousseff e Guido Mantega para explicar que não é bem assim, que um copo meio vazio também está meio cheio... Os outros interlocutores vêm da Avenida Paulista: o Copom baixou os juros, o PIB decresceu, o consumo das famílias caiu? Já aparecem na tevê e na imprensa em geral, as mesmas figuras de sempre: Paulo Skaf da Fiesp, Abraham Szajman da Federação do Comércio de São Paulo, Armando Monteiro Neto (que é pernambucano mas comanda a Confederação Nacional da Indústria, majoritariamente paulista nos interesses, na forma de entender os problemas e nas prioridades) e poucos mais. Parece que a imprensa obedece cegamente às ordens do Capitão Renault do filme Casablanca e "prende os suspeitos habituais". Para o resto do Brasil, resta o registro do folclórico ou do trágico: o carnaval da Bahia, a festa do boi de Parintins, o círio de Nazaré e as procissões do Senhor dos Navegantes, as micaretas e os carnavais fora de época, o futebol. Ou então, a barbárie do crime organizado e desorganizado no Rio de Janeiro e nas periferias das grandes cidades, as enchentes, a seca...

Em nenhuma hipótese estou fazendo pouco da contribuição intelectual e política de São Paulo e dessas pessoas citadas em particular, nem manifestando um tipo de complexo de inferioridade em relação à pauliceia, que, para nós paranaenses, poderia ser denominado de "complexo de quinta comarca". Estou apenas reivindicando que se ampliem as fronteiras do Brasil que é ouvido nas decisões nacionais. E que o Paraná, eternamente tímido, envergonhado, deslocado nas reuniões do beautiful people, pare de aceitar resignadamente esse papel de mero coadjuvante da vida nacional, fazendo o papel daqueles personagens a quem a imprensa antiga se referia como "transeuntes que passavam pelo local..."

PS: ¿Por qué no te callas?. Se o ministro da Justiça do Brasil considera o assassinato a sangue frio de quatro pessoas em Pernambuco apenas como um ato "mais arrojado" de um movimento social e não consegue identificar sinais de radicalização no campo, seria melhor que seguisse o conselho do Rei Juan Carlos e nos poupasse de ouvir alguns disparates ditos com ar professoral.

Belmiro Valverde Jobim Castor é professor do Doutorado em Administração da PUCPR.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]