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O título deste artigo brinca com nomes geograficamente relevantes (Brasil Londres), assim como fez Wim Wenders em seu maravilhoso Paris Texas, filme em que Harry Dean Stanton, depois de anos perdido no deserto, reencontra seu filho e procura pela mãe prostituída (Nastassja Kinski).

Pensando em Paris Texas, veio-me à cabeça um fato da economia mundial. Noticiou-se há pouco que o Brasil se tornou o sexto PIB (Produto Interno Bruto) do mundo, ultrapassando os tradicionalíssimos britânicos. E se disse mais: que em breve estará a ocupar o quinto posto, em lugar de França. A notícia me fez lembrar dos anos de ditadura militar, quando alardeavam os nossos governantes fardados que éramos a oitava economia do mundo.

Ser ou não ser a sexta economia do mundo, eis a questão que intriga e me faz refletir em tom interrogativo.

Na Inglaterra há impunidade como no Brasil? Não. Exerce-se na monárquica Ilha uma Justiça firme e que não costuma deixar impunes os poderosos, e isso vem ocorrendo tradicionalmente desde 1215, quando o rei John Landless promulgou a Magna Charta Libertatum, instituindo uma Justiça Popular (Tribunal do Júri) que marcou os alicerces do que passamos a conhecer como Common Law.

Na Inglaterra há desprezo do governo em face dos trabalhos científicos e da educação? Não, bastando dizer que na terra dos britânicos nasceram Isaac Newton e William Shakespeare, e é ainda hoje na Inglaterra que se desenvolvem estudos avançados nas áreas da Física, da Medicina, da Química e do Direito.

O povo inglês tem noção de direitos e deveres mais aguçada do que o povo brasileiro? Sim. Entre os povos britânicos foi-se construindo uma democracia em que "(...) o povo controla a Constituição, e não a Constituição controla o povo (...)", frase lapidar de um estudioso brasileiro, Orlando Magalhães Carvalho. É por esta razão que os ingleses jamais tiveram uma Constituição formal e escrita e que o constitucionalismo inglês se formou sobre as bases do desmonte do Leviatã (do Estado arbitrário). Isso significa que os britânicos reivindicam os seus direitos e conhecem os seus deveres, e que o governo nada pode lhes opor sem o seu expresso consentimento. Estivesse o governo inglês com a crise ministerial que acomete o governo Dilma, já teriam os populares saído às ruas aos milhões e o governo não teria resistido a um voto de desconfiança no Parlamento – anote-se que os britânicos adotam o parlamentarismo!

Vê-se nos países do Reino Unido a miséria que se nota facilmente nas ruas das cidades brasileiras? Não! Apesar de haver miseráveis em qualquer parte do mundo, o número de britânicos lançados à própria sorte é infinitamente menor do que o de brasileiros.

As comparações feitas bastam para se afirme que o Reino Unido é muito mais bem resolvido como nação e como Estado do que o Brasil. A imprensa alardeia os números de um PIB crescente, esquecendo-se de um sistema falido chamado SUS, esquecendo-se de que o Supremo Tribunal Federal ainda não julgou o caso dos mensaleiros do governo Lula, esquecendo-se de que no Brasil ainda se luta contra uma doença há muito superada nos países que realmente se preocuparam com a saúde pública.

Megalomania: um problema que tem o brasileiro. Frases como "o Rio de Janeiro é a cidade mais linda do mundo!", "o Rio Amazonas é o mais caudaloso do mundo" refletem uma paixão nacional pelos números estratosféricos. Entretanto, enfrentando todas essas frases postas entre aspas, pergunto: e daí? Quantos cariocas vivem em favelas sem saneamento? Quantos amazonenses desfrutam da riqueza natural daquele estadonortista?

Não basta ao Brasil ser a sexta economia do mundo; isso é apenas um número que não reflete a realidade social. Urge a distribuição das riquezas num mercado de trabalho promissor que prime pelo investimento maciço em educação. Com um povo sabedor de seus direitos e deveres e capaz de produzir individualmente de acordo com os talentos de cada um, daí sim o Brasil alcançará um patamar que não se traduzirá em número, mas sim em prosperidade, como ocorre num Canadá, numa Austrália ou numa Coreia do Sul.

Assim, ser a sexta economia do mundo é tão vazio quanto um nada.

Alexandre Coutinho Pagliarini, diretor de Relações Internacionais do Instituto de Direito Constitucional e Cidadania, é escritor, advogado, pós-doutor pela Universidade de Lisboa, doutor e mestre pela PUCSP.

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