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Felipe Lima

No dia 2 de outubro de 2009, na cidade de Copenhague, o Brasil foi eleito sede dos Jogos Olímpicos de 2016, derrotando a cidade de Madri na votação final. Na época, vivemos momentos de glória e êxtase. Porém, desde então, convivemos com a palavra “legado”. Assim como milhões de brasileiros, sinto que essa palavra tem apenas um objetivo bem simples: justificativa para manipulação do dinheiro público nas obras específicas e de mobilidade urbana que vão atender a população após os Jogos Olímpicos. Ora, estamos a pouco menos de 50 dias da cerimônia de abertura e o Rio de Janeiro vive um caos econômico no qual não há dinheiro para pagar seus servidores públicos – os de segurança pública, em uma cidade onde os traficantes fazem ações dignas de Hollywood, repatriando traficantes internados em hospitais; os da saúde pública, no momento em que o zika vírus apavora toda a comunidade nacional e internacional; fora os diversos problemas de infraestrutura que demandariam muitas laudas de discussão.

Hoje, a nação brasileira vive uma crise institucional de valores éticos e morais sem precedentes e necessitamos avaliar com maturidade cada situação social, econômica, de saúde e educacional que envolve a sociedade brasileira. Os Jogos Olímpicos são uma oportunidade única de agregar valores e gerar energia suficiente para impulsionar setores carentes da sociedade.

Infelizmente passamos de 2009 a 2016 sem uma política de incentivo ao esporte escolar

Quando escutamos autoridades preocupadas com nosso desempenho esportivo no quadro de medalhas, com a meta de ficar entre os dez países com melhor classificação, significa que todo o investimento feito nos Jogos Olímpicos se reporta à justificativa dos gastos em cada ouro obtido. Talvez levantemos entre dois e seis ouros. Então, em um evento orçado em R$ 36 bilhões, cada medalha de ouro vai custar cerca de R$ 7 bilhões. Para que este valor seja justificado, devemos ter um planejamento e um conjunto de ações que precedem a glória do pódio.

Para que possamos chegar ao ouro olímpico, necessitamos de ações que venham da base de nossa pirâmide social, ou seja, na escola, para que se justifique uma medalha olímpica brasileira a esse custo bilionário. O que vemos, no momento, é um investimento no esporte de alto rendimento, para o qual o COB contratou mais de 38 técnicos estrangeiros para suprir nossa deficiência técnica de conhecimento e diversas ações paliativas denominadas de “tapa buraco” para obter o sonhado ouro olímpico. Afinal, imagine se o Brasil, país-sede dos Jogos, não ganhar nenhum ouro no Rio 2016? Como explicaremos o legado? O da Copa do Mundo, por exemplo, ainda estamos esperando acontecer.

Infelizmente passamos de 2009 a 2016 sem uma política de incentivo ao esporte escolar, que é base para o sucesso no esporte de alto rendimento. Para a conquista de um ouro olímpico, é necessário envolver diversos setores: famílias, comunidades e governos locais, o que não é fácil. Temos todo o potencial humano para isso, somos um país privilegiado, somos multiculturais. Certamente reflexões vão vir à tona após os Jogos Olímpicos. Esperamos que seu legado sirva para que o Brasil possa entender que o real valor do esporte é a inclusão social, a superação de objetivos, a integração familiar, a melhora de padrões para a saúde e a construção de valores morais e éticos. Assim, podemos utilizar o esporte como uma das pontes para formação de uma nação justa, livre e solidária. Este será o verdadeiro legado dos Jogos Olímpicos de 2016.

Zair Candido de Oliveira Netto é coordenador de Educação Física da Universidade Positivo.
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