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Nas asas milionárias do AeroLula, o presidente-candidato em campanha atravessou terras e mares para pousar na África, na quinta visita ao continente nos três anos e quebrados do mandato, para uma turnê de cinco dias, com escalas na Argélia, no Benin, em Botswana e na África do Sul e o retorno previsto para sábado, garantindo o descanso domingueiro e a pelada na Granja do Torto.

Como o presidente só pensa e age como candidato na caça aos votos dispersos na longa temporada de omissões, de paralisia da geringonça administrativa incompetente e obesa com a multiplicação de ministérios e secretarias para a generosa distribuição aos companheiros petistas, muitos consolados dos insucessos eleitorais e depois as atribulações e desgastes com os escândalos da supercorrupção do caixa 2, na pausa respira com a brisa das pesquisas que registram a recuperação dos índices de popularidade. Para explicar a ausência e a interrupção de uma semana convém buscar as razões na estratégia dos novos marqueteiros ainda não apresentados ao distinto eleitorado.

Lula não pisaria no freio de ladeira acima sem um bom motivo ajustado ao seu interesse obsessivo e prioritário. Para a necessidade de uma justificativa, o Itamarati está pronto a socorrê-lo com as clássicas desculpas diplomáticas: a agenda das viagens internacionais e montada com grande antecedência para entrosar os deslocamentos entre quatro países, cada qual com temas e acordos específicos. O que é a verdade que se dissolve em escusas e explicações para o caso de um adiamento imposto pela primazia da campanha.

O falso enigma é de singela decifração, pendurada em penca de motivos. Para começar, Lula adora viajar e nunca presidente desfrutou com mais prazer e constância o requinte de rico de virar o mundo pelo avesso, sem mexer no bolso, cutucado pela curiosidade superficial de conhecer as atrações clássicas de todos os programas turísticos.

Na verdade, o candidato não pára a campanha. Ao contrário, dribla o cansaço das inaugurações e promessas por ampla exposição na mídia, com espaço cativo nos jornais, revistas e noticiários das TVs e a mudança de cenário: o toque de exotismo da poderosa e original cultura africana. Dos trajes, danças, música, cozinha e o toque de simpatia pelas raízes que se misturam no sangue da escravidão. Lula não será esquecido durante a semana e se fará lembrado pelos discursos lidos e de improviso da exuberância da sua eloqüência, pelas entrevistas e declarações que semeará com fartura para atender aos pedidos dos colegas que o acompanham, rentes aos seus calcanhares.

E, afinal por aqui as coisas marcham bem, apesar de alguns tropeços e caneladas. A população absorveu a tática de descarada impostura do candidato em campanha, repetindo em cada palanque e em cada esbarro com repórteres, que só decidirá no fim do prazo, em junho, se disputará a reeleição. A mentira não dissimula o truque, que sangra a ética, da utilização da máquina oficial para o descarado privilégio, respaldado pela brecha constitucional.

Lula alega, e com razão, que todos fizeram e continuam fazendo o mesmo. Do mais recente e odiado inimigo, o antecessor que inaugurou a reeleição, Fernando Henrique Cardoso, aos governadores e prefeitos. Mas nenhum com o desembaraço e a cobertura de hipocrisia do atual candidato. Não há mãos a medir nem limites à gastança na sementeira de promessas, de benefícios distribuídos com a generosidade perdulária de filho pródigo de viúva rica.

A operação tapa-buracos na rede rodoviária em pandarecos, largada ao abandono em três anos de sonolência, virou a marca da campanha, o seu mágico ímã de votos. Até os barnabés, humilhados por 11 anos de salários, aposentadorias e pensões congelados e o deboche do último reajuste, em 2005, de 0,01% – e que não foi pago – estão sendo engambelados com a promessa de um cala-boca a ser encaixado à última hora no Orçamento deste ano, ainda encalhado no Congresso das mordomias e da verba indenizatória.

Não se passa um dia sem que o presidente-candidato visite obra municipal e estadual. Ou prometa o milagre de sedutores benefícios.

A farra eleitoreira com a máquina oficial sustentará o oba-oba por mais quatro meses, prazo mais do que suficiente para que Lula consolide e amplie a recuperação dos percentuais de aprovação nas pesquisas e lance a candidatura à reeleição como favorito.

O que não é pouca coisa, mas não é tudo. No meio do caminho os cascalhos das CPIs inconclusas e a prova de fogo do horário de propaganda eleitoral em rede de emissoras de rádio e televisão. Sem Duda e a dinheirama do caixa 2.

Resta o consolo de uma certeza: esta eleição enterra a praga da reeleição em cova rasa, sem choro nem vela. Já vai tarde.

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