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Certamente esta eleição presidencial será a última com programação de rádio e televisão preparada por marqueteiros, com tomadas externas e efeitos especiais na tentativa de seduzir o eleitor. Este é o item mais caro das campanhas.

Os candidatos têm que se mostrar como realmente são, sem disfarces, enganação ou artificialismos. Sua exposição nas televisões (Justiça Eleitoral) deve ser ao vivo, proibido o uso do teleprompter, que possibilita a leitura dissimulada dos textos elaborados pelos profissionais de marketing.

A ausência de propostas dos candidatos em relação aos principais problemas nacionais é um desrespeito à opinião pública, que deseja o retorno do desenvolvimento, a redução do desemprego, a diminuição da criminalidade e o fim da corrupção.

O médico anestesista Geraldo Alckmin se transformou em clínico geral e examina pacientes. Mulheres grávidas enaltecem o ótimo atendimento no parto; outras falam muito obrigado para o remédio que recebem na residência. O sorteio de casas populares ocupa tempo e o candidato do PSDB almoça com os pobres no restaurante de R$ 1,00.

O programa de Lula é mesmice igual. Camponeses – homens e mulheres – agradecem a luz elétrica; outros elogiam as benesses do Bolsa-Família; figurantes diversos entoam loas ao salário mínimo e à inflação baixa.

Assuntos importantes não interessam aos marqueteiros, e Lula e Alckmin preferem ignorá-los.

Bush invadiu o Iraque por causa do petróleo e está pensando se ataca o Irã pela mesma razão. Se o Brasil crescer 6% ao ano só tem reservas do "ouro negro" para 10 anos, depois acaba a auto-suficiência, mas a Petrobrás deploravelmente está exportando mais petróleo do que importa óleo leve para o refino interno. Os leilões de blocos promovidos pela Agência Nacional do Petróleo (ANP) permitem que as multinacionais vendam para o exterior o óleo extraído, como já estão fazendo a Shell e a Repsol. O bom senso manda guardar nossas reservas de petróleo. O que pensam disso os presidenciáveis do PT e do PSDB?

Há outras indagações dos eleitores sem resposta. O Geraldo vai reencetar as privatizações do governo Fernando Henrique Cardoso, tendo como alvo a própria Petrobrás, o Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Furnas e Eletronorte?

Como será tratado pelo futuro presidente da República o Congresso Nacional? Parlamentares continuarão propondo emendas individuais no orçamento para compra de ambulâncias e ônibus escolares, construção de ginásios de esportes e de estradas, e outros mecanismos que entreabrem a porta às práticas de improbidade?

Somos o maior produtor e exportador mundial de minério de ferro e não há planejamento para virmos a ser gigante na indústria do aço, com apoio do BNDES e de incentivos fiscais. As ex-estatais Cia. Vale do Rio Doce e Companhia Siderúrgica Nacional ainda dependentes da União, que se tornaram poderosas com o esforço do povo brasileiro, estão batendo asas para fortes investimentos no exterior. A "Vale" está comprando a Inco do Canadá por US$ 17,7 bilhões com dinheiro à vista, endividando-se com quatro bancos estrangeiros (US$ 4,5 bilhões cada). Isso serve ao Brasil?

O salário mínimo deve continuar tendo aumentos reais e vai desatrelar-se das aposentadorias do INSS? Lula e Geraldo prometem que vão baixar juros, impostos e despesa pública, contudo não esclarecem como, quais e quanto.

Os outros candidatos mantêm a toada. Cristovam Buarque apegou-se a um tema só, a educação, que é abordada por todos, e desprezou a formidável herança do trabalhismo (PDT), jogando fora a chance de representar a 3.ª via, com a bandeira nacionalista e antineoliberal, que desponta na América Latina inteira, da Argentina ao México, elegendo o presidente da República, ou ficando próximo da vitória.

Bivar promete o imposto único, tese interessante para eliminar a dispendiosa máquina fazendária de municípios, estados e da União, e desobrigar os tributos declaratórios que facilitam sonegação. Porém, o candidato não detalha seu projeto. Eymael e Ana Maria Rangel não justificam sua presença no pleito.

A Heloísa Helena é a mais propositiva dos candidatos. Aproveita seu curto horário eleitoral para dizer que baixará pela metade os juros Selic e colocará o Banco Central independente do governo e dos banqueiros.

Foi um avanço da legislação eleitoral o fim dos outdoors, dos showmícios e da oferta de brindes aos eleitores, e a transparência na prestação de contas dos candidatos. Falta agora dispensar a atuação dos marqueteiros nos horários da Justiça Eleitoral, instituir a fidelidade partidária e o voto distrital misto e estabelecer limite-teto de gastos para minimizar a influência do poder econômico.

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