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| Foto: Marcos Tavares/Thapcom

A esquerda, cuja fidelidade aos seus sofismas é levada ao limite da serventia, tem aproveitado a expressiva riqueza dos candidatos João Amoêdo e Henrique Meirelles para pilotar o megafone da luta de classes. Há mais de um século, combatendo a economia de empresa e o capitalismo, sustenta que, se alguém enriqueceu, é porque muitos empobreceram, e que tal situação só pode ser superada com a rebelião dos trabalhadores para um governo de operários.

Trata-se de sofisma vulgar, de colossal ignorância sobre economia, de ainda mais grave incapacidade de aprender dos fatos e da história, e de chocante hipocrisia. Até países que afogaram sua população em sangue para implantar o comunismo já aprenderam que as coisas não são assim. Por aqui, no entanto, esse miserável arsenal retórico é usado para influenciar parcelas da opinião pública.

A ideia de que há um nível básico e que se alguém criar para si um montinho, alguém ficará com um buraquinho, é de uma sandice inigualável

A ideia de que há um nível básico e que se alguém criar para si um montinho, alguém ficará com um buraquinho, é de uma sandice inigualável. Como bem ensina o exemplo cubano, em tal regime as galinhas deixam de pôr ovos e as vacas não dão mais leite. Falta até sabão porque, sob o comando do Estado, nem sequer atividades industriais sofisticadas como a produção de sebo e sabão conseguem atender o mercado. Na vida real, a miséria só começa a diminuir em um regime de liberdade que permita aflorar o talento dos empreendedores em conduzir negócios e gerar riqueza como produto da convergência competentemente organizada dos fatores de produção. No Brasil, há pobres demais porque há ricos de menos.

O papa Leão XIII, de modo profético, 26 anos antes da revolução bolchevique, assim prenunciou, na encíclica Rerum Novarum, o que iria acontecer onde viessem a ser aplicadas as ideias comunistas e igualitárias: “Veem-se bem todas as suas funestas consequências, a perturbação em todas as classes da sociedade, uma odiosa e insuportável servidão para todos os cidadãos, porta aberta a todas as invejas, a todos os descontentamentos, a todas as discórdias; o talento e a habilidade privados dos seus estímulos e, como consequência necessária, as riquezas estancadas na sua fonte; enfim, em lugar dessa igualdade tão sonhada, a igualdade na nudez, na indigência e na miséria”.

Rodrigo Constantino: A praga da ideologia (publicado em 15 de agosto de 2018)

Leia também: Consenso desafiado (editorial de 12 de agosto de 2018)

O papa acertou na mosca! E foi terrível o advento do totalitarismo, indispensável parceiro do igualitarismo, com seu cortejo de genocídio, sacrifício das liberdades públicas e dos direitos individuais. Estou condensando, aqui, um enorme pacote de motivos pelos quais os sofismas que mencionei no início deste artigo não conseguiram, a leste do Muro de Berlim, clientela suficiente para sua mercadoria política.

Quanta hipocrisia a desses críticos de fortunas legalmente formadas e formalmente declaradas, havidas do talento pessoal e dos postos de trabalho gerados, da criação de riqueza, da aquisição de ações que financiam empresas, de poupança que se converte em capital para novos empreendimentos! Como podem ser críticos disso e, ao mesmo tempo, não se sensibilizar com o enriquecimento dos que roubaram o povo, ocultaram seus bens, lavaram dinheiro, depositaram no exterior, sem jamais haver produzido qualquer coisa que tenha valor fora do político-eleitoral advindo da demagogia e da irresponsabilidade?

Percival Puggina é arquiteto, empresário e autor de Crônicas contra o Totalitarismo, Cuba, a Tragédia da Utopia e A Tomada do Brasil.
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