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O grande desafio da governança no futuro é fazer com que os políticos eleitos localmente sejam capazes de agir tomando decisões para todo o planeta e a longo prazo

A Subcomissão Rio+20 da Comissão de Relações Exteriores do Senado, a qual presido, vem organizando debates sobre o futuro do planeta, desde 18 de maio. Mas somente agora a presidenta Dilma Rousseff prometeu trabalhar para atrair chefes de Estado para a Rio+20, a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a ser realizada entre 4 e 6 de junho de 2012, no Rio de Janeiro.

O Rio de Janeiro será a cidade-sede do principal evento planetário sobre o futuro da Terra, mas "não está fazendo o dever de casa", como bem disse Tião Santos, ator do filme Lixo Extraordinário, que disputou o Oscar, em Los Angeles. Tião é morador do Rio, nasceu, cresceu e vive até hoje no Lixão de Gramacho, onde preside a Associação dos Catadores.

E as demais cidades brasileiras? Será que estão cumprindo a missão de serem sustentáveis? O mundo já está de olho no Brasil por causa da Copa do Mundo de 2014 e da Olimpíada de 2016. Mas estará também em 2012 por causa da Rio+20. A minha grande preocupação é com a Carta do Rio para o mundo e com o recado das principais nações e de seus chefes de Estado.

Aqui no Senado, nós estamos fazendo a nossa parte em prol de uma vida melhor no planeta. Os oito debates já realizados abordaram temas da maior importância para todos, tais como água, energia, produção de alimentos, economia verde, superação da pobreza, cidades, governança e biodiversidade. Outros temas estarão em discussão nos próximos dias, especialmente decrescimento econômico, desenvolvimento sustentável, novos indicadores para a qualidade de vida, mudanças climáticas, padrões de consumo, conhecimento, ciência e tecnologia, migração, oceanos e espaço, desemprego, trabalho, educação, universidade, desarmamento, tráfico, refugiados, bancos, moeda, felicidade, publicidade, envelhecimento e o novo humanismo.

É certo que os debates provocam mais perguntas do que respostas. As perguntas que nos levam ao debate podem ser acessadas no livro Rio+20 – 2012 Cúpula do futuro - 171 perguntas, na página www.cristovam.org.br.

Em 2012, mesmo ano da Rio+20, que estará acontecendo 20 anos após a ECO 92, a França, os Estados Unidos e a Alemanha terão eleições para decidir a governança dos próximos quatro anos daqueles países. Talvez seus presidentes não venham ao Brasil para a Rio+20 por causa dessas eleições. Este é um desafio da presidenta Dilma Rousseff, até porque urgem a governança do planeta e a administração das soluções.

O grande desafio da governança no futuro é fazer com que os políticos eleitos localmente, presos ao calendário da próxima eleição, sejam capazes de agir tomando decisões para todo o planeta e a longo prazo. Outro desafio é definir o organismo internacional que poderá auxiliar o governo de soluções planetárias, sem ferir a soberania de cada país. Um terceiro desafio trata do limite da soberania de cada nação e de até quando ela deve sobrepor-se aos interesses maiores da humanidade.

A metamorfose civilizatória vai exigir a criação de um novo humanismo, no qual a harmonia prevaleça sobre o crescimento econômico, impeça o poder transnacional do setor financeiro e sua capacidade de arruinar economias e nações inteiras, as bolhas que criam riquezas ilusórias e de curto prazo. O novo humanismo exige limites ecológicos para o consumo. Exige também que a liberdade tolere a desigualdade na renda e no consumo, assegurando igualdade no acesso aos serviços de saúde e de educação.

A Carta da Rio+20 sensibilizará a opinião pública mundial e apontará esse rumo para o futuro?

Cristovam Buarque, professor da UnB, é senador pelo PDT-DF

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