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Queridos filhos, o dia em que este velho já não seja o mesmo, tenham paciência e compreendam-me. Quando derramar café na camisa e esquecer de amarrar os cordões dos meus sapatos, lembrem-se das horas que passei ensinando-os a amarrá-los.

Quando conversarem comigo e eu repetir as histórias que já sabem de cor como terminam, não me interrompam e escutem-me. Lembrem-se que, quando eram pequenos, eu contava mil vezes o mesmo conto, até que o sono chegasse.

Quando me virem inútil e ignorante frente aos avanços tecnológicos que nunca entenderei, tenham paciência e não me lastimem com sorrisos debochadores. Lembrem-se que fui eu quem lhes ensinou a comer e vestir e os educou para enfrentarem a vida e vencerem os obstáculos, como muito bem o fazem agora.

Quando demore muito para sair do templo, porque me foi difícil encontrar a saída, tenham paciência e saibam que dezenas de vezes me dirigi a esse local santo para pedir ao Criador que nunca faltasse nada aos meus queridos filhos.

Quando me faltarem as pernas para andar, dêem-me suas mãos para ajudar-me a trocar os passos, como eu fiz com vocês para ensiná-los a caminhar.

Se por infortúnio eu molhar as roupas íntimas, não me censurem, pois inúmeras vezes ajudei sua santa mãe, que já nos deixou, a trocar suas fraldas.

Finalmente, e muito importante, perdão pelas constantes ausências. Ir e voltar do trabalho deixando-os e encontrando-os dormindo doía muito. Deveu-se a luta pela subsistência e para dar-lhes o melhor.

Quando me ouvirem dizer que não quero mais viver, não fiquem zangados, pois algum dia entenderão que o que digo não contradiz o carinho e o amor que sempre tive e tenho por vocês. Não fiquem tristes ao verem como me vêem, dêem-me seus corações, compreendam-me e me apóiem como eu fiz quando vocês começaram a viver. Como eu os acompanhei ao iniciarem suas caminhadas, acompanhem-me ao terminar a minha. Dêem-me amor e paciência e eu lhes devolverei gratidão e sorrisos pelo imenso amor que sinto por vocês.

E, se eu os esqueço, por favor, não se esqueçam de mim.

Seu Pai.

Affonso Antoniuk é doutor em neurologia e professor de neurocirurgia da UFPR.

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