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Demonstrators clash with riot police on the fifth straight day of street violence which erupted over a now suspended hike in metro ticket prices, in Santiago, on October 22, 2019. – President Sebastian Pinera held a meeting with leaders of some of Chile’s opposition parties on Tuesday, aiming to find a way to end street violence that has claimed 15 lives amid sustained protests. (Photo by CLAUDIO REYES / AFP)
Protestos em Santiago, Chile| Foto: CLAUDIO REYES / AFP

Todos se perguntam por que as multidões chilenas vão às ruas contra políticas públicas que, adotadas há décadas, deram ao país os melhores indicadores econômicos e sociais do continente. A resposta é que nenhum setor quer pagar a conta da sustentabilidade do modelo em marcha, e que a internet permite mobilizações sem líderes, partidos ou mídia tradicional. Sem o surgimento da internet e seu poder de mobilização, essas manifestações não ocorreriam, tampouco sem a motivação política decorrente do descontentamento com a realidade.

Não há como continuar no rumo do progresso que mantém pobreza, desigualdade, corrupção, mudanças climáticas, degradação de serviços públicos, violência urbana, desemprego. Não é mais possível seguir destruindo a natureza com seus efeitos catastróficos; nem usar o Estado, sem sacrificar a moeda, endividar as gerações futuras e prejudicar os serviços essenciais.

O descontentamento é geral porque o modelo insustentável se esgotou

Dificilmente os que vão às ruas se unirão em torno de propostas que permitam enfrentar os desequilíbrios sacrificando benefícios adquiridos graças ao adiamento das medidas necessárias à sustentabilidade. Todos querem um meio ambiente limpo e equilibrado, mas não aceitam pagar o preço de consumir menos.

O Chile equilibrou sua Previdência jogando o custo sobre os aposentados, mas quem está disposto a pagar a conta da sustentabilidade: os jovens ativos aumentando suas contribuições, os muito ricos com fortes cortes em suas rendas, consumo e investimento, as classes médias com sacrifício de gastos em serviços públicos, aceitando a falsa moeda da inflação?

Muitos estão contra a privatização de serviços públicos, mas quantos aceitam pagar o custo dos serviços estatais com sustentabilidade fiscal ou com o desvio de recursos da educação, da saúde, dos salários dos servidores, ou com aumento de impostos? Sobretudo quando se tem a desculpa de saber que esse dinheiro pode terminar nos bolsos de políticos corruptos.

As manifestações no Brasil, em 2013, no Chile, em 2019, e em quase todas as partes foram iniciadas por causa do aumento no preço de tarifas do transporte público ou aumento no preço dos combustíveis. Todos são unânimes contra os reajustes. Mas quem aceita pagar o custo do subsídio necessário aos que usam o transporte, garantindo sustentabilidade necessária às finanças públicas e à continuação dos programas de subsídios?

O descontentamento é geral porque o modelo insustentável se esgotou e ninguém quer pagar o sacrifício necessário para lhe dar sustentabilidade. Além de que a internet facilita as mobilizações, ninguém confia nos políticos e não há filósofos com imaginação para propor um novo paradigma social, nem estadistas capazes de convencer o povo a pagar o custo para construir um futuro sustentável.

Cristovam Buarque é professor emérito da Universidade de Brasília.

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