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A seleção brasileira masculina de futebol, que acaba de protagonizar mais um vexame na Olimpíada, poderia migrar para o Reino de Oz, do filme da Judy Garland, e representá-lo nas próximas competições: uma parte do selecionado demonstrou a coragem do Leão Covarde e a outra, a inteligência do Espantalho. Em português claro, para os que não leram o livro nem viram o filme: nenhuma. Falta de entusiasmo, de empenho, de sofrimento, associada à estupidez tática é uma combinação absolutamente invencível para ganhar a medalha de ouro da mediocridade, que foi o que nos sobrou. Enquanto isso, a seleção feminina fez os saudosistas lembrarem das grandes seleções guerreiras que já tivemos, com uma Pelé de suti㠖 já que não posso descrever Marta como usando saias – coadjuvada por outros grandes talentos e por outras em que o talento talvez não seja tão grande, mas que compensam a falta demonstrando coragem para enfrentar as botinadas das adversárias e entusiasmo para vencer. Uma seleção formada por gente modesta, briosa, treinada competentemente, lamentando cada oportunidade perdida e lutando até o momento que os locutores de futebol gostam de descrever como aquele em que "trila o apito final do árbitro da partida".

Apesar de tudo, o torcedor brasileiro não se cansa de idolatrar os marmanjos. Mas, a essa idolatria, eles respondem com um futebol apático, abúlico, pouco imaginativo e pouco entusiasmado. A seleção brasileira masculina de futebol é hoje – e já o é há vários anos – um grupo de gatos gordos, lânguidos, preguiçosos, se arrastando em campo. Alguns estão gordos literalmente, outros demonstram saudável adiposidade bancária.

A imprensa, sempre esperançosa, tenta levantar a bola de Ronaldinho Gaúcho, que teria perdido a motivação para jogar mas que, agora, a teria reencontrado (provavelmente estimulado pelos milhões de dólares que receberá do futebol italiano). Que nada! Fora de campo ele está permanentemente protegido por gigantescos óculos escuros e carregando seu tambor de pagode, eternamente absorto ouvindo seu Ipod. Dentro de campo, nada. Nosso conterrâneo Alexandre Pato, aureolado como um novo gênio da arte futebolística, não disse a que veio nem por que foi. E fora de campo, Dunga esteve mais perdido taticamente que a inesquecível dupla Parreira e Zagalo, de quem o torcedor brasileiro tem poucas razões para saudade. Refiro-me à última Copa do Mundo e não ao passado já distante da Copa dos Estados Unidos.

O Brasil, se não quiser continuar a dar os vexames a que já estamos infelizmente nos acostumados, necessita daquilo que os pecuaristas chamam de um choque de sangue. Explico: quando o gado começa a ficar geneticamente enfraquecido pelos cruzamentos consangüíneos, é necessário que haja uma renovação abrupta e completa, a injeção de novo sangue para renovar o rebanho. No caso da seleção, esse choque de sangue tem de atingir os que estão dentro e fora de campo. Fora das "quatro linhas", a cartolagem precisa ser urgentemente varrida do mapa. Dentro de campo, temos de reinfundir o entusiasmo, o amor à camisa, o orgulho de estar fazendo parte da pátria de chuteiras (apud Nelson Rodrigues). À beira do campo, colocar mais inteligência, pois amor à camisa e brio não faltaram ao pobre Dunga, e sim inteligência tática. Que saudades de Telê, a síntese perfeita entre coração e cérebro, como jogador e como técnico.

Vou mais longe. Acredito que esse choque de sangue deveria ser radical: só seria convocado para a seleção brasileira quem estivesse jogando no Brasil no momento da convocação, para acabar com essa Legião Estrangeira, em que chegam jogadores de todos os cantos do mundo, cansados, desmotivados, carregando penosamente suas malinhas Louis Vuitton e consultando impacientes seus Rolex de ouro ou seu Iphone, doidos para voltar para casa ou ir para a boate da moda mais próxima. Não passamos a vida toda dizendo que o Brasil tem talento sobrando para montar três ou quatro seleções? Por que não colocar a teoria à prova? Ingenuidade minha? Certamente. Mas o torcedor brasileiro é, acima de tudo, um ingênuo.

Belmiro Valverde Jobim Castor é professor do Doutorado em Administração da PUCPR.

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