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Clareza moral na ONU
| Foto: Fabio Abreu

Pausa no tema do coronavírus, até porque, imagino, todos devem estar um tanto saturados do negativismo destilado por boa parte da mídia abutre. Segue uma resenha de With All Due Respect, autobiografia de Nikki Haley, a ex-governadora de Carolina do Sul apontada por Trump para ser a embaixadora americana na ONU. Sua passagem de dois anos por lá deixou marcas, e Haley passou a ser mencionada como provável sucessora do presidente após um eventual segundo mandato.

Tomara que sim! Trata-se, afinal, de uma mulher de fibra, corajosa, que ao mesmo tempo consegue demonstrar tato e muita disposição para o diálogo. Ela também agrega alguns requisitos interessantes que dariam um nó na esquerda democrata: é mulher e minoria, pois é filha de imigrantes indianos. O fato de não ser nem branca nem negra foi crucial para marcar sua visão sobre racismo. Sua sensibilidade ao tema nunca virou sinônimo de vitimização, porém.

O que Haley levou para a ONU, com o apoio de Trump, foi uma visão patriótica da América, do seu papel de líder do mundo livre, que não precisa abaixar a cabeça ou pedir desculpas por seu legado. Enquanto Obama queria muito ser aceito e querido pelos demais países, que adoram alimentar o antiamericanismo, Trump representa uma visão diametralmente oposta, de quem sabe que o multiculturalismo serve para mascarar a excepcionalidade dos Estados Unidos.

Nenhum país é perfeito, claro. Mas isso não pode ser pretexto para nivelar todos por baixo, como querem os multiculturalistas. Os princípios fundadores da América, de liberdade individual e dignidade humana, devem servir como um farol nas negociações geopolíticas. É a liderança do “xerife” do mundo que pode torná-lo mais seguro. Quando essa liderança se mostra fraca, como na era Obama, os inimigos da liberdade ficam mais ousados. Com Haley e Trump, os Estados Unidos recuperaram parte da confiança e assertividade perdidas.

A ONU virou um palco da esquerda caviar em nível global, onde reina a hipocrisia, há muita conversa vazia e pouco resultado concreto. Os pagadores de impostos americanos são responsáveis por mais de 20% do orçamento da entidade. Qual o retorno desse investimento? O que recebem em troca, quando a ONU cede seu púlpito para ditadores apontarem seus dedos para o “Grande Satã” e serem ovacionados por representantes de regimes igualmente nefastos, sob o silêncio covarde das nações aliadas?

Haley estava decidida a mudar isso. Ganhou muitas batalhas, perdeu outras, mas saiu com o respeito da maioria, justamente por dizer o que pensa, por representar o povo americano com lealdade e firmeza, e por ser direta, mas com graça. O fato de não ser uma diplomata de carreira pode ter ajudado. Sua experiência como governadora lhe trouxe pragmatismo e também foco nos resultados. A verborragia típica da ONU não lhe interessava nem um pouco.

Seu amor pelos valores americanos é evidente. Seus pais abandonaram uma vida de conforto na Índia para oferecer maiores oportunidades aos filhos. O quão longe ela chegou, por puro mérito, é prova do acerto. E Haley está determinada a lutar para preservar tais valores, para defender as liberdades individuais que estão ausentes em tantos dos países com os quais ela precisou lidar.

Mas Haley pretende fazer isso evitando o tribalismo, a segregação da população em “nós versus eles”, de forma binária, como se todos de quem discordamos fossem pessoas ruins. Os incidentes de violência racial em seu estado durante sua gestão foram desafiadores, e ela demonstrou capacidade de unir em vez de dividir. O caso da bandeira confederada ilustra bem isso: o que poderia ter produzido um conflito de grandes proporções foi resolvido de forma sutil à base de muito diálogo e consenso. Após 53 anos, o símbolo que o Capitólio ostentava foi retirado, sem maiores problemas.

Nikki Haley não foi uma apoiadora inicial de Trump. Quando ela foi convidada para fazer parte da administração, ainda mais num cargo tão importante, ficou surpresa, e exigiu uma contrapartida: a liberdade de ser direta e transparente, inclusive com o presidente. Trump retrucou que foi exatamente para isso que a escolheu. Após os dois anos na ONU, Haley saiu de cabeça erguida, em ótimos termos com o presidente, por considerar que sua missão fora cumprida.

Ela criticou duramente os colegas do establishment que tentavam ignorar a agenda de Trump por considerar, de forma arrogante, que sabiam melhor do que o presidente eleito o que era do interesse do povo americano. Para Haley, isso é uma traição não só ao presidente, mas à Constituição. O governo Trump ficou marcado por esse tipo de conduta do “deep State”, dos tecnocratas que passaram a agir contra o próprio chefe.

Durante o período na ONU, Haley deixava claro que os aliados dos Estados Unidos seriam lembrados, assim como seus inimigos. Dito e feito: o viés contra Israel é conhecido e abjeto na entidade, e Obama muitas vezes se deixou levar pela patota. No governo Trump, a postura mudou radicalmente, e Israel passou a ser defendido com veemência. Já os inimigos sofreram as maiores sanções da história, como Coreia do Norte, Irã e Venezuela. China e Rússia são sempre os dois países poderosos que dão suporte a tais regimes, e Haley soube cobrar deles algumas concessões importantes.

Num ambiente dominado pela hipocrisia, Haley soube levantar a voz para defender princípios e valores ignorados por tantos. Ela viu de perto o estrago causado pelo socialismo, que leva sempre à miséria e à opressão. E está convencida de que devemos educar as crianças sobre os perigos dessa ideologia macabra. É preciso sempre lembrar com gratidão de quão sortudos são todos que podem viver numa nação livre como a América. E é fundamental lutar para preservar essa condição. O primeiro passo, sem dúvida, é constatar essa realidade, esse diferencial em relação a outras potências. Isso exige clareza moral, virtude tão em falta nesse mundo relativista e pusilânime.

Rodrigo Constantino, economista e jornalista, é presidente do Conselho do Instituto Liberal.

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