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Depois dos abalos financeiros experimentados entre setembro e dezembro de 2008 e da definição das eleições presidenciais dos Estados Unidos (EUA), em favor de Barack Obama, cujo partido (Democrata) recuperou a maioria na Câmara dos Representantes e no Senado, perdida em 1992, o sistema econômico mundial passou a emitir sinais mais nítidos acerca da provável trajetória a ser trilhada pelas finanças, produção e comércio, a partir da utilização dos mecanismos de política econômica, anunciados durante o período de pânico.

A preocupação central repousa no gerenciamento adequado da duração e intensidade da recessão, em um ambiente de diminuição dos focos inflacionários, sobretudo aqueles derivados de pressões pelo lado da demanda agregada, especificamente os dispêndios com consumo privado, investimento, compras governamentais e exportações.

Ao contrário do ocorrido em intervalos de tempo imediatamente após o 1º e 2º choques do petróleo, em 1973 e 1979, quando a pronunciada retração dos níveis de atividade foi acompanhada de abrupta e continuada ascensão dos patamares de inflação, episódio denominado de estagflação, delineia-se, para 2009, a conjugação entre recessão e deflação, fenômeno bastante parecido com o acontecido nos EUA, durante o começo dos anos 1930, e no Japão, no decênio dos 1990.

A propósito disso, ainda que menos profundo do que na década de 1930, devido às atitudes mais rápidas tomadas pelas autoridades fiscais e monetárias, o panorama presente foi batizado de estagdeflação, pelo economista Nouriel Roubini, conhecido como o profeta do caos por ter previsto o 1º choque da gobalização financeira do século 21, situação quase que inevitável diante da supervalorização de ativos verificada entre 2003 e 2007.

A cotação do barril de petróleo furou o piso de US$ 50 no final de novembro, pela primeira vez desde 2005, depois de alcançar quase US$ 150 no começo do segundo semestre de 2008. As companhias integrantes das bolsas nos EUA perderam mais de US$ 8 trilhões entre junho de 2007 e novembro de 2008, o que corresponde a 57% do Produto Interno Bruto (PIB) daquele país.

O PIB norte-americano caiu 0,5% no 3º trimestre de 2008, o primeiro resultado negativo desde os –0,2% dos últimos três meses de 2007, e o pior desde o 3º trimestre de 2001. O National Bureau of Economic Research (NBER), escritório nacional de estatística dos EUA, defende que a economia daquele país ingressou em uma trajetória recessiva desde dezembro de 2007, depois dos 120 e 73 meses de expansão, registrados durante os anos 1990 e a partir de novembro de 2001, respectivamente.

Já o desemprego subiu de 6,1% da População Economicamente Ativa (PEA) em setembro para 6,7% em outubro de 2008, o pior desempenho desde fevereiro de 1994 (6,6% da PEA), configurando a eliminação de 533,0 mil postos somente no mês de novembro. Estatísticas da Automatic Data Processing (ADP) apontam encolhimento de 250 mil pessoas no contingente empregado pelo setor privado nos EUA em novembro.

O número de solicitações de seguro-desemprego superou 540 mil em novembro, o maior desde julho de 1992, e o Índice de Preços ao Consumidor dos EUA recuou 1% em outubro, segundo o Departamento do Trabalho, o maior declínio desde fevereiro de 1947. Se for considerada a variação apenas do núcleo do indicador (descontada a volatilidade de energia e alimentos), o decréscimo foi de 0,1%, o primeiro desde 1982.

A construção de habitações e a concessão de alvarás para novos empreendimentos imobiliários nos EUA experimentaram declínios recordes de 18,9% e 15,6%, respectivamente, em novembro, segundo o Departamento de Comércio.

Gilmar Mendes Lourenço é economista, coordenador do Curso de Ciências Econômicas e editor da revista Vitrine da Conjuntura da FAE Business School.

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