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Imagem ilustrativa.| Foto: Pixabay

Não existe mais nenhuma dúvida de que o Facebook, junto com a Cambridge Analytica, influenciou as eleições anteriores nos Estados Unidos e, tudo indica, em vários outros países, incluindo o Brasil. Não sendo por outro motivo nasce desse escândalo a GDPR, que é a lei sobre a qual se baseou a nossa Lei Geral de Proteção de Dados.

A rede social demonstrou que, apenas com ajustes em uma simples postagem, conseguiu levar mais de 300 mil pessoas a votarem numa eleição que não é obrigatória e que foi vencida por uma margem da ordem de 100 mil votos. Já a Cambridge Analytica selecionava e focava nos eleitores em dúvida, para manipulá-los a votar conforme seu interesse. Um processo que se iniciou pelo mapeamento do comportamento das pessoas a partir dos likes, posts, reposts e tempo decorrido nas postagens, como meio de atribuir uma característica de “a favor”, “contra” ou “em dúvida”.

A base de toda a manipulação veio da polarização, dos ataques difamatórios por postagens e por notícias falsas repetidas continuamente. Trabalhando nos vieses presentes nas nossas formas de pensar. Uma notícia falsa repetida por diversos meios aciona o chamado “viés da disponibilidade”, que é uma tendência natural a acreditar naquela informação que mais nos é repetida. Ela também aciona nossa ancoragem, que é a dificuldade de afastar-se da primeira informação que recebemos sobre alguma coisa. Na sequência, entramos no “viés da confirmação”, simplesmente descartando notícias, informações ou argumentos que vão contra a ideia que já formamos, tendendo a só ver e ouvir o que confirma a nossa crença já estabelecida. Ou seja, uma ideia é construída, fixada e internalizada em nossa mente ao ponto de tornarmo-nos cegos às alternativas.

Vieram a lei, a atenção para esse tipo de artifício e até o indiciamento de alguns dos atores envolvidos. Só que isso não será o bastante.

Simplesmente deixamos de acompanhar fontes regulares de notícias e, quase unanimemente, estamos nos informando apenas por meio das redes sociais, ou por nossos grupos de mensagens instantâneas, não só como meio de termos acesso ao mundo, mas também como replicador dessas mensagens. Por trás destas ferramentas está a economia da atenção, que tem seu valor no maior tempo em que você permanece ligada a ela. Exatamente por causa disso ela é gerida por sistemas de inteligência artificial que ajustam tudo que chega até você para que seja mais atrativo e consiga mantê-lo mais tempo preso à rede. Essas ferramentas, munidas das suas informações e partindo do pensamento que já vem há muito sendo induzido em você, vai mantê-lo incapaz de julgar corretamente os candidatos na próxima eleição, levando-o, mais uma vez, a ser manipulado em suas convicções, e a servir a alguém com seu voto.

Pena que não existe forma de mudar a realidade digital que aqui está, e não temos forças para ir contra a ideia que já nos foi implantada. Mas, se você quiser um conselho, até as eleições volte a ler jornais; hoje, são os únicos meios de informação que não são adaptados por inteligência artificial ao que você deseja ver.

Christiano Sobral é advogado e administrador, Law Master em Direito Digital, mestre em Estratégia e especialista em marketing, finanças, economia e negócios.

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