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Em entrevista publicada na edição de 12/04 nessa Gazeta, afirmei que a economia do Paraná teria tirado pouco proveito do ciclo expansivo vivido pelo Brasil entre 2004 e 2007 e perdido a locomotiva do crescimento. Tal conclusão precisa ser qualificada para não causar desconforto em quem costuma enxergar conspiração ideológica em todos os lugares e/ou se sente obrigado a atrelar desempenhos econômicos regionais aos programas e ações das respectivas gerências públicas, negligenciando a diminuta capacidade destas em reverter e/ou até maximizar situações produzidas em âmbito internacional e nacional.

Por certo, em pouco mais de meio decênio, o Paraná registrou avanços econômicos nada desprezíveis – especialmente no segmento de bens de consumo não duráveis e semiduráveis, fruto, primordialmente, da cobrança de tarifas subsidiadas de serviços públicos e da ativação de incentivos fiscais às microempresas e do programa "Leite das Crianças". Ainda assim, um exame atento do comportamento dos agregados econômicos regionais permite a constatação de perda de embalo do estado nos tempos recentes. A participação do Paraná na geração do Produto Interno Bruto (PIB) do país recuou de 6,4% em 2003 para 5,8% em 2008, segundo o Ipardes. Em idêntico sentido, a contribuição do Paraná para as vendas externas brasileiras caiu de 9,8% em 2003 para 7,7% em 2008, conforme a Secex.

Em outras palavras, o Paraná pode ter abdicado de parcela da responsabilidade no esforço produtivo doméstico e externo, realizado pelo país, em um período de alteração (para melhor) do patamar de crescimento nacional, por meio do encaixe no maior ciclo de expansão da economia mundial depois da 2ª Guerra.

Parece razoável insinuar que essa frustração econômica possua raízes em problemas climáticos (três estiagens), fitossanitários (febre aftosa e gripe aviária) e de mercado, e nas injunções de política macroeconômica do governo federal, que derrubaram a rentabilidade do agronegócio regional no intervalo compreendido entre 2004 e 2006.

Mas é impossível ignorar a influência negativa exercida por elementos institucionais endógenos, resumidos na conjugação entre o abandono da formulação e negociação política de um projeto de desenvolvimento de longo prazo para o estado, a falta de um programa articulado de atração de investimentos (substituído por modesta lista de empreendimentos), a relação conflituosa entre os atores públicos e privados do estado, e a tímida capacidade de interferência política das instâncias locais na órbita federal, apesar da ocupação das pastas do Planejamento e da Agricultura.

Alguns exemplos dessa disfunção foram a insuficiência dos investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) diante das necessidades de alocação de recursos na deteriorada infraestrutura do estado e o não reconhecimento de nenhum município do Paraná em situação de emergência pela Defesa Civil Nacional, por causa da seca (contra 42 no Rio Grande do Sul e outros 34 em análise).

Nesse contexto, é impossível deixar de indagar sobre o destino da Britânia (que foi para a Bahia e regressou para Joinville), da fábrica de polipropileno, não contemplada pelos vultosos investimentos da Petrobras, da ampliação da multinacional sueca Tetra Pak, da implantação da japonesa de pneus Yokohama, do projeto da planta norte-americana Guardian, produtora de vidros, e da emblemática Toyota.

Por fim, caberia um esclarecimento de natureza técnica, para evitar eventuais tropeços em indicadores e conceitos, particularmente por atores menos familiarizados com o cotidiano econômico, preocupados com a valorização das belezas do varejo em detrimento do árduo trabalho no atacado, e escorados em apoios comissionados, na busca de contabilizar como vitórias inclusive a colheita de sementes plantadas por outros. A indústria automobilística, atraída na segunda metade das décadas de 1970 e 1990, "segurou a onda" do estado durante a instabilidade do agronegócio. Isso porque, o incremento médio da produção industrial paranaense, apurado entre 2003 e 2008 pelo IBGE, cai de 4,9% ao ano para 2,2% a.a., quando retirada a performance de "fabricação de automóveis, ônibus e caminhões".

Gilmar Mendes Lourenço, economista, coordena o curso de Ciências Econômicas da FAE Centro Universitário

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