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A sustentabilidade da sociedade começa com a trans­­­formação do nível de consciência individual, na descoberta de quem somos na nossa essência

A operação exitosa dos governos estadual e federal no Complexo do Alemão teve a finalidade de proporcionar uma vida mais digna a seus habitantes. Porém para isso foi necessária a ação de policiais militares, exército e tanques de guerra, entre outros artefatos.

As perguntas que não querem calar são: como chegamos a esse estágio de esgarçamento social? Que sociedades construímos no Rio de Janeiro, no Brasil e no mundo? Somos movidos a quê? Que valores, rituais de convivência, nos entrelaçam e nos movem?

Albert Einstein disse: "Um ser humano é parte de um todo que chamamos o universo, uma parte limitada no espaço e no tempo. Ele sente a si próprio, seus pensamentos e emoções, como algo separado do resto – um tipo de ilusão de ótica da consciência. Para nós, essa ilusão é uma espécie de prisão, restringindo-nos a nossos desejos e afeições pessoais para com algumas pessoas mais próximas. Nossa tarefa deve ser a de nos libertarmos dessa prisão, ampliando nosso círculo de compreensão e compaixão, de modo que possa incluir em sua beleza todas as criaturas viventes e a totalidade da natureza."

A prova da atualidade desse pensamento é a realidade de nossa sociedade. A individualidade impossibilitou por muito tempo o pensamento coletivo.

Mas por qual razão ao longo da história da humanidade nos "vendemos" tão barato, achando que a felicidade era individual e se resumia em termos melhores casas, roupas, viagens, celulares? Por que o "ter" passou a ser mais importante do que o "ser"?

Por que como autônomos presenteamos entre nós os que já possuem mais do que o necessário, para viver, em detrimento de outros, invisíveis na nossa cegueira adquirida, que não possuem o suficiente para sobreviver?

Se olharmos nossas vidas, entenderemos rapidamente que os momentos mais harmoniosos que vivemos foram, na enorme maioria das vezes, momentos simples.

Acredito que há muitos anos, como médicos que somos todos – pois de "médicos e loucos todos temos um pouco" –, não nos debruçamos o tempo necessário para diagnosticar as reais causas dessa deterioração.

Até quando trataremos septicemia com analgésicos? Até quando nos veremos como seres separados e não interconectados em nossas essências e, portanto, muito mais poderosos do que podemos imaginar?

Ao ignorar e condenar ao abandono grande parte da população, amputamos parte de nós mesmos. Como ser feliz assim?

Nossa cultura ocidental e crist㠖 que tanta ênfase dá ao crescimento intelectual – é incapaz da promoção de conhecimentos que não passam somente – nem principalmente – pelo intelecto e sim pelo coração, conhecimentos que já temos conosco. Ou melhor, conhecimentos acumulados em várias culturas, chamados de sabedoria.

O grande desafio dos dias atuais é balancear o indivíduo e o coletivo, o desejo de ter e a real necessidade de ter. Saber que dividir é, na verdade, somar para um mundo melhor.

Nossa saúde mental e física depende de quanto conseguirmos, dentro de nos mesmos, entender esse paradigma – dividir é somar. Se conseguirmos isso, novos comportamentos e novas formas de vida se tornam reais.

Nesse momento, vamos saber que uma nova era se inicia para a sociedade, um novo futuro começa. E uma nova relação entre os indivíduos poderá ser estabelecida, mais fraterna, sustentável e humana.

É obvio que no futuro o conceito de nação não existirá mais. Seremos um povo só como a globalização no seu aspecto mais libertário vem demonstrando.

A sustentabilidade da sociedade começa com a transformação do nível de consciência individual, na descoberta de quem somos na nossa essência. Mas a real transformação se dá quando descobrimos que individualmente não movemos o mundo, apenas quando nos unimos.

Vera Cordeiro, fundadora da Associação Saúde Criança, é médica.

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