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O que importa examinar é a perda de dinamismo estrutural da economia regional, em uma etapa de reação ofensiva da economia nacional, durante o maior ciclo de expansão do comércio mundial

A revisão das estimativas de evolução do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil e do Paraná, para o exercício de 2009, e os cálculos preliminares para 2010, realizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e pelo Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes), permitem a identificação de algumas tendências, determinadas por fatores conjunturais e estruturais.

Mais precisamente, os níveis de atividade encolheram -0,6% no Brasil e -1,2% no Paraná em 2009, em face dos reflexos da crise financeira internacional, especialmente no primeiro semestre daquele ano. Já em 2010, os patamares de produção ascenderam 7,6% no Brasil e 8,3% no Paraná, confirmando o delineamento de uma rota de recuperação econômica desde a segunda metade de 2009.

Na verdade, as estatísticas atualizadas repudiam a retórica da marola, proferida pelo então presidente Lula, no último trimestre de 2008, por ocasião da eclosão do default. Igualmente comprovam alguns equívocos cometidos pelas autoridades federais no estágio inicial da gestão da contaminação pela instabilidade externa, entre setembro e dezembro de 2008, principalmente a flexibilização dos recolhimentos compulsórios junto ao Banco Central, sem a redução dos juros, e a venda de dólares no mercado, o que apenas facilitou a vida dos apostadores na apreciação do real e dos aplicadores de somas expressivas de recursos em papéis públicos.

Porém os números do PIB de 2010 expressam a importação, de 2009, da atuação compensatória dos bancos públicos na concessão de crédito e dos efeitos positivos da escolha de segmentos com elevada capacidade de geração de impactos multiplicadores dinâmicos para frente e para trás, como alvo preferencial dos incentivos fiscais ancorados no Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). Foram eles as indústrias automobilística, de eletrodomésticos de linha branca, de móveis e de construção.

Especificamente no Paraná, a recessão foi mais intensa, atingindo em cheio as forças motrizes da economia regional, capitaneadas pelo agronegócio e pela cadeia produtiva da indústria automobilística, a despeito de algumas ações anticíclicas deflagradas pela administração estadual na área tributária, o que revela o frágil poder de manobra das instâncias políticas locais na reversão de marchas contracionistas produzidas em âmbito externo.

Por seu turno, a reativação dos patamares de negócios foi levemente mais acentuada no estado, em virtude da resposta favorável das atividades ligadas ao rural, à indústria automobilística e à construção civil, ao coquetel de benesses de tributos, ao reforço do crédito e ao empuxe dos preços das commodities no mercado internacional, afetado pela demanda chinesa.

Contudo, é fácil perceber que o movimento ascendente da base produtiva paranaense em 2010 pode ser imputado a elementos pontuais e transitórios, que podem sumir de forma tão instantânea como apareceram. Por isso o que importa examinar é a perda de dinamismo estrutural da economia regional, em uma etapa de reação ofensiva da economia nacional, durante o maior ciclo de expansão do comércio mundial, depois da Segunda Guerra, multiplicado pelo fortalecimento do mercado interno brasileiro, desde 2006, movido a emprego, salário e crédito.

Enquanto o PIB brasileiro cresceu 4% ao ano entre 2003 e 2010, o paranaense variou 3,6% a.a., o que fez o peso do estado na formação da renda interna nacional recuar de 6,4% para 5,9%. Essa diminuição de embalo pode ser explicada primordialmente pelo débil arranjo institucional entre os atores públicos e privados do estado, o que prejudicou a preparação e execução de um programa estratégico de desenvolvimento, incluindo o restabelecimento da necessária presença política do Paraná na esfera federal, o resgate da competitividade da infraestrutura, notadamente na área de transportes, e a melhoria dos indicadores sociais.

Nesse contexto, o ajuste fiscal do começo do governo Beto Richa, centrado em atitudes concretas na direção da impulsão do investimento, com participação do setor privado, constitui um primeiro passo na direção da reconquista das condições de crescimento econômico sustentado do estado, com maior grau de interiorização e inclusão social.

Gilmar Mendes Lourenço, economista, é diretor-presidente do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes) e coordenador do curso de Economia da FAE.

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