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Muita gente passou pelo curso de Comunicação Social da UFPR nesses 50 anos. Mas são muito poucos aqueles que podem dizer que tiveram a experiência da pesquisa. Quando foi criado, o curso vinha, como tantos outros Brasil afora, suprir uma carência de formação superior aos profissionais, o que explica em parte a ênfase dada ao ensino na faculdade. Isso criou o mito de que professor bom é aquele com experiência profissional, de preferência o que concilia as duas atividades simultaneamente. Não havia nem interesse nem disposição para a pesquisa, para a produção do conhecimento, papel fundamental de uma universidade.

A proliferação de cursos de pós-graduação na área, especialmente nos últimos dez anos, mudou o cenário da formação em Comunicação no Brasil. A pesquisa, antes confinada a raros centros no país, assumiu o lugar que era seu de direito desde sempre. Professores passaram a ter carreira acadêmica – o que para outras áreas sempre foi o caminho natural – e a dedicar-se exclusivamente à universidade. Isso acontece de forma concomitante a uma transformação também no mercado profissional: se antes a formação deveria ser muito específica e técnica, agora, pelo menos na comunicação social, é preciso circular por diferentes saberes e competências. A comunicação deixa de ser apenas uma formação para exercício das profissões e assume também o papel de delimitação de uma área do conhecimento científico.

O ambiente atual de profusão de "opiniões", principalmente disseminadas pelas redes sociais digitais, exige formar pessoas com capacidade para o debate público de ideias, para além das noções equivocadas do que vem a ser a democracia e um dos seus pilares, a liberdade de expressão.

A pesquisa em comunicação permite se aventurar num dos mais complexos fenômenos sociais, com cuidado e método, com curiosidade e abertura para o desconhecido ou indesejável. Isso vai de encontro ao que se tem visto na produção em comunicação atualmente, que é a avaliação apressada, sem informação, com consequências graves para a sociedade.

Nesse sentido, trabalhar com comunicação pressupõe assumir uma posição como ator político, que interfere na leitura da realidade e, por isso, requer um grau alto de responsabilidade, responsabilização e transparência sobre os processos de coleta e tratamento da informação. Esse material alimenta as discussões públicas e contribui para o aperfeiçoamento do debate, tão caro para uma vida social saudável, que por sua vez garante que a liberdade de expressão seja positivamente defendida e não usada como desculpa esfarrapada para obliterar seu sentido real.

Isso só se alcança com a formação de profissionais que tenham entendido que a comunicação não é apenas um procedimento que, se bem instrumentalizado, garante a qualidade do relato midiático, mas uma instituição democrática que vive na tensão de pontos de vista, de avaliações, de propostas, desde que bem informadas e fundamentadas. Comunicação diz respeito, portanto, a uma qualificação para a vida política.

Kelly Prudencio, doutora em Sociologia Política, é professora do Departamento de Comunicação da UFPR. Este texto integra série especial de artigos sobre os 50 anos do curso de Jornalismo da UFPR.

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