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O número de concluintes do ensino médio regular em 2017, algo em torno de 1 milhão e 780 mil, é 2,6% menor do que o de 2016, 1 milhão e 830 mil, aproximadamente. De fato, são números assustadores em si, porém, não é tão simples indicar que eles, isoladamente, impliquem em retração inevitável de interessados em educação superior nos próximos anos. Claro que o desejável seria termos um crescimento contínuo e substantivo de jovens se formando naquele nível, no entanto, há outros fenômenos ocorrendo simultaneamente e que devem ser levados em conta.

Em 5 de agosto deste ano, foi aplicado o Exame nacional para a certificação de competências de jovens e adultos (Encceja), quando 1 milhão e 340 mil inscritos, número 7,6% maior do que no ano anterior, visam a obtenção do diploma de ensino médio. Parte significativa deles declara a expectativa de, posteriormente, pleitear vagas no ensino superior. Assim, é possível observar que a diminuição de formandos no ensino médio regular é compensada pelo incremento, mais do que o dobro de um ano para outro, de potenciais postulantes vindos por um outro caminho.

A tendência aponta para um sucesso educacional relativamente maior via a adoção progressiva de metodologias híbridas e flexíveis

Duas observações preliminares sobre o Encceja. Primeira, o exame é constituído basicamente de quatro partes: matemática; ciências da natureza suas tecnologias; linguagens e códigos; redação; e ciências humanas e suas tecnologias. Segunda, o Exame nacional de ensino médio (Enem) até 2016 possibilitava o recebimento de diploma do ensino médio, sendo que mais de 1 milhão de postulantes ao Enem atestavam ter tal objetivo como requisito essencial para o ingresso no nível superior.

Assim, parte da dinâmica de interesses e opções acima parece estar associada ao relativo e crescente desinteresse dos jovens pelo ensino médio regular na forma que ele é hoje. No passado, os postulantes do Encceja e de seus exames predecessores eram basicamente pessoas maduras que haviam perdido a oportunidade de estudar quando na idade apropriada. Contemporaneamente, é crescente a quantidade de jovens que preferem aguardar completar 18 anos para, via caminhos alternativos, testar seus conhecimentos e, se aprovados, obter seus certificados.

Interessante observar que, pela primeira vez, é significativo e crescente o percentual de candidatos ao diploma de ensino médio que consegue acesso ao conteúdo do exame via outras formas, que não a escola tradicional. Atualmente, há várias iniciativas inéditas e estão disponíveis um conjunto de atraentes portais educativos de qualidade, parte deles gratuitos e os demais acessíveis a baixos custos. Tais caminhos se mostram cada vez mais interessantes àqueles que expressam compatibilidade com metodologias e tecnologias que permitem ao educando aprender o tempo todo e em qualquer lugar.

Leia também: Educação é outra história (artigo de Fausto Zamboni, publicado em 2 de agosto de 2018)

Leia também: A reforma do ensino básico e o futuro dos grupos de educação (artigo de Cesar Silva, publicado em 30 de julho de 2018)

Não deve surpreender a ninguém que acompanha os processos educacionais no Brasil o fato de que, em poucos anos, o número de matrículas do ensino superior na modalidade a distância superará o correspondente no presencial. Da mesma forma e mais enfaticamente ainda, quanto às crianças e os mais jovens, sempre que eles tiverem a opção de explorar novas abordagens educacionais, desde que demonstrem mais compatibilidade com as formas segundo as quais eles vivem, trabalham e se relacionam com amigos e família, parte deles assim procederá.

São fenômenos complexos e com variáveis múltiplas. Portanto, na tentativa de simplificá-los, corremos o risco de gerar interpretações equivocadas ou demasiadamente parciais. Porém, parece inequívoco que, em geral, a tendência aponta para um sucesso educacional relativamente maior via a adoção progressiva de metodologias híbridas e flexíveis. Ou seja, a partir da incorporação apropriada de tecnologias digitais, é possível propiciar um ensino personalizado, mais atraente e eficiente. Desta forma, temos a oportunidade de cumprir com os objetivos de uma educação de qualidade para muitos, propiciando que todos estudem, desde que atendendo à indispensável customização que leva em conta o fato de que cada educando aprende de maneira pessoal e única.

Ronaldo Mota é chanceler da Estácio.
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