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Precisamos evoluir para conter nossas concepções de hegemonia cultural e exclusão social, corroboradas não só pelas crises econômicas, mas principalmente por nossas deficiências em superarmos tradições e preconceitos

Depois do genocídio ocorrido num país pacato como a Noruega, ficam os intelectuais a perguntar se o ocorrido não é mais uma das muitas faces perversas dos fundamentalismos, ideológicos ou religiosos, que ultimamente têm assolado o mundo, do Oriente ao Ocidente. Na verdade, as declarações do autor dos disparos que mataram dezenas de jovens não deixam dúvidas quanto aos propósitos de seu ato, que seriam no sentido de combater o multiculturalismo e a influência muçulmana na Europa.

Ora, o lamentável de tudo isso e que nos provoca sérias preocupações é o ponto a que chegamos no fracasso em sustentar uma convivência no mínimo pacífica entre as pessoas e as culturas, ou seja, a exasperação de uma intolerância que, pasme, apresenta ainda hoje alguns defensores, como as recentes declarações de uma autoridade italiana, defendendo a ideia de que o continente europeu deveria melhorar a sua autodefesa, fechando-se mais em relação a imigrantes e às influências externas!

Sem dúvida tais acontecimentos não fazem mais do que demonstrar o quanto ainda precisamos evoluir, no sentido de conter nossas concepções de hegemonia cultural e exclusão social, corroboradas não só pelas crises econômicas, mas principalmente por nossas deficiências em superarmos tradições e preconceitos em permanente conflito com os princípios universais de respeito pela vida e pelas outras pessoas.

A cultura deste terceiro milênio, que deveria primar por valores humanistas e de tolerância, na verdade tem gerado negatividades que anulam quaisquer de seus bons propósitos, pela falta absoluta de condições culturais que as pudessem tornar factíveis. Refiro-me a todos os excessos que o progresso tecnológico traz consigo, através da indústria predatória, da exaustão do meio ambiente, das drogas e da ausência de objetivos para viver e honrar compromissos.

Dessa forma, chegamos a uma situação-limite de transformação radical, que se faz urgente e necessária, com o propósito de criar uma civilização humana que permita às pessoas viverem em paz consigo mesmas e com os outros. Para isso, necessário é cultivarmos uma prática de tolerância e afastamento de qualquer tipo de radicalismo excludente, seja político, ideológico ou religioso.

Para tanto, a contribuição dos governos, das escolas e das instituições culturais é imprescindível, não dispensando o trabalho valioso dos meios de comunicação social, todos agindo eticamente em favor dos ideais humanísticos de tolerância e multiculturalismo.

Antonio Celso Mendes, professor da PUCPR, é mestre e doutor em Direito e pertence à Academia Paranaense de Letras.

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