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Nos inúmeros fatos e circunstâncias que geraram conflitos ao longo da história da humanidade, as diferenças físicas, culturais e religiosas entre grupos e nações têm sido as maiores causas dos embates. Começaram com as batalhas tribais e continuam até hoje com incrível violência. Houve mais mortes no século 20 por intolerância racial do que em todos os séculos anteriores. Isso inclui o genocídio nazista contra os judeus, o antagonismo entre grupos raciais nos Estados Unidos e o apartheid na África do Sul. Se todas as pessoas tivessem compreendido que o surgimento de raças distintas é resultado da evolução pela seleção natural, provavelmente não teríamos tido tantos conflitos militares, escravização de povos, torturas e mortes em todo o planeta. As diferentes características físicas dos povos surgiram em conseqüência das pressões do meio ambiente.

Pequenos grupos de Homo erectus migraram do continente africano para outros lugares da Terra e enquanto todos evoluíram para o homem moderno, cada grupo viveu isolado dos demais. Em resposta aos estímulos proporcionados pelo clima, doenças, competição por alimento, espaço para viver e outras condições externas, os grupos, geograficamente isolados, desenvolveram diferentes combinações de genes que hoje os antropólogos físicos identificam como as nove principais raças geográficas: 1) Caucasóide europeu; 2) negróide africano; 3) mongolóide asiático; 4) australóide; 5) índio americano; 6) índio asiático; 7) polinésio; 8) melanésio; 9) micronésio. Cada grupo desenvolveu sua própria língua, cultura, religião e história. Como a exposição excessiva aos raios ultravioleta é danosa à pele e aos olhos, as pessoas que viviam próximas à linha do Equador desenvolveram pigmentação mais escura na pele e nos olhos.

O biólogo e fisiologista alemão Carl Bergmann (1841-1865) provou que pessoas de regiões mais frias são mais atarracadas que as de áreas mais quentes porque o vento gélido fez o corpo evoluir para uma configuração mais baixa e mais densa, para preservar melhor o calor. O formato do nariz relaciona-se à umidade pois uma das suas funções mais importantes é a umidificação que dá proteção aos pulmões. Os habitantes de áreas secas (como os asiáticos), tendem a ter o nariz mais estreito, diferentemente dos centro-africanos, que têm nariz mais largo. Outras características fisiológicas como altura, cor e textura do cabelo, crescimento ósseo e tipo sangüíneo estão também ligadas a fatores ambientais aos quais nossos ancestrais se adaptaram ao longo de cerca de 1 milhão de anos.

Somos dotados de um cérebro privilegiado e, por isso, capazes de entender cada vez melhor as leis da natureza, mas, ironicamente, diminuímos a importância da seleção natural sobre nossas vidas. Apesar de agora compreendermos em profundidade o processo da evolução, proporcionado por um grande número de informações e pelo conhecimento de diversos campos da ciência, continuamos a ver a emoção prevalecer sobre a razão. A evolução em 1859 era uma teoria, hoje é um princípio e um fato absoluto. Embora seja obra de referência sobre plantas e animais A origem das espécies (1859), expressa a seguinte previsão de Charles Darwin: "No futuro vejo campos abertos para pesquisas muito mais importantes. Muito se esclarecerá sobre a origem do homem e sua história".

Um dos pré-requisitos para entender a natureza humana é, sem dúvida, o conhecimento profundo dos princípios e mecanismos da evolução pela seleção natural. Contestá-los hoje, é negar a ciência e os debates científicos.

Por outro lado, se todos os seres humanos tivessem evoluído num mesmo território, falassem a mesma língua, tivessem crenças religiosas e culturas semelhantes, jamais teríamos desfrutado o fascínio e a riqueza de nossas diversas culturas.

Na abertura do texto da "Carta da Terra", aprovada no dia 14 de março de 2000, na sede da Unesco, em Paris, estes sentimentos estão assim expressados:

"Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo tempo, grandes perigos e grandes promessas. Para seguir adiante, devemos reconhecer que no meio de uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos somar forças para gerar uma sociedade sustentável global baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz".

Acreditamos que haverá um dia em que a humanidade compreenderá sua evolução e as leis da natureza, respeitando as diferenças para viver em harmonia neste nosso raro e maravilhoso planeta azul.

Carlos Renato Fernandes é escritor, fotógrafo e membro do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná. É autor dos livros "O Paraná", "Floresta Atlântica - Reserva da Biosfera" e "Curitiba-Brasil".carlosrenatofernandes@yahoo.com.br

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