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Conservador, progressista ou terceira via?

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(Foto: Pixabay)

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Sejamos sinceros: nunca se falou tanto em teoria política no Brasil e, ao mesmo tempo, nunca se entendeu tão pouco sobre o que estamos falando. Pensamentos filosófico-políticos são considerados equivalentes a ideologias e colocados na mesma mesa, como se estivéssemos nos referindo a gêneros, que só se diferenciam nas espécies, e cuja essência só se altera na forma com que lidamos com os aspectos práticos da vida em sociedade.

Não é o caso. Em cada sistema filosófico-político ou ideologia, existem princípios fundantes que fazem toda a diferença na escolha de que tipo de país ou sociedade queremos viver, com consequências importantes.

Para um progressista (e suas corruptelas como o positivismo, o marxismo, o desenvolvimentismo e até mesmo algumas vertentes do liberalismo), o progresso é uma premissa metafísica inquestionável. Ou seja, a existência disfruta de um impulso inevitável para a perfeição. Assim, o homem e a sociedade caminham para um estado de perfeição em uma sociedade sólida e estável, um reino social e ético eternos (Sittlichkeit), rompendo sempre com o passado e com todo o saber produzido pela humanidade, pois o que virá sempre será melhor que o que foi.

Esse reino é atingido por meio de processos sociais e econômicos – e não pelo homem, que se aprimora, ou por um processo da ordem do indivíduo, em complexos e inevitáveis ciclos de mudanças sociais –, sendo o ser humano apenas a engrenagem por cujo intermédio o processo se perpetua, liderado por uma elite burocrática, um grupo de demiurgos mais iluminados e esclarecidos que empurrarão a história para o seu inevitável fim, a perfeição social e humana. É isso que põe Marx e Hegel de mãos dadas! A incontrolável marcha do homem para a felicidade – para o primeiro, por meio da luta de classes; para o segundo, por meio da política. Uma elite burocrata, que organizaria a sociedade perfeita e uniforme, uma ideologia (assim como o comunismo, fascismo, nazismo, liberalismo e socialismo) que estipula a sociedade perfeita.

Parece bonito, mas... e se você discordar ou não fizer parte da elite burocrática?

O conservadorismo, por sua vez, não é uma ideologia, mas um princípio, uma mentalidade filosófica e política. Não representa um corpo dogmático fixo, não pretende forçar um modo de vida rígido, é formado por convicções que se ajustam ao tempo, crê em uma ordem transcendente de uma moral e realidade objetivas, entende a diversidade e o mistério humano, tem a convicção de que a sociedade requer uma estrutura e limites definidos de convivência.

Em cada sistema filosófico-político ou ideologia, existem princípios fundantes que fazem toda a diferença na escolha de que tipo de país ou sociedade queremos viver, com consequências importantes.

O conservador observa o fundamento da ordem social civil, o costume, a convenção e a Constituição como fontes de uma ordem civil tolerável e que servem de freio tanto para o impulso anárquico do homem como para o avanço desmedido do Estado. Desconfia da natureza humana, das instituições e da manipulação das massas. O conservador não é avesso às mudanças, mas não as recebe de forma impensada, sem observar as consequências imediatas e mediatas de cada uma de suas ações. É quem defende a liberdade humana de escolha per excellence, é o que popularmente se define por “você não me enche a paciência, que eu não lhe encho a paciência”.

Ora, são modelos sociais bem distintos, com consequências distintas e dramaticamente diferentes.

E o que chamamos de terceira via? Pois bem, a terceira via é um vazio político, não tem uma visão de mundo ou sociedade, significa apenas um grupo tentando capturar as instituições do Estado para criar políticas que beneficiem aos seus. É algo sem identidade e sem significado dogmático ou político, uma gambiarra que tenta dizer tirar o melhor de cada um, mas produz o pior de todos. É uma espécie de pato político – diz nadar, voar e correr, mas não faz nada direito e só serve de tira-gosto ao redor da mesa da boa política.

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Por isso, quando falamos em formar uma nação, uma sociedade, falamos de um projeto, não de poder, mas de vida. Não podemos aderir a ideias e conceitos que busquem padronizar, uniformizar e tolher o pensamento, ao mesmo tempo em que fingem libertá-lo. Não é razoável crer que precisemos de uma elite burocrática, que saiba o que é melhor para mim, para minha família, ou qual educação eu deveria ter e como deveria viver. Não é razoável querer padronizar a sociedade e forçar a adequação de valores pessoais para que possam empurrar a história em direção a um fim no qual eu seja uma mera engrenagem a caminho de uma perfeição que só se encontra na mente daqueles “iluminados” que guiam a sociedade.

É por isso que ser conservador não é uma opção, mas uma necessidade, em um mundo a caminho do suicídio.

Arthur Machado é empresário na área da educação, MBA em Finanças e fundador da Associação Semeadora.

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