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Nos últimos anos, o Brasil passou por grandes transformações e o incentivo do governo federal ao consumo desenfreado – com a redução e congelamento de alguns tributos, como o Imposto Sobre Produtos Industrializados (IPI) – inflaram o poder de compra das pessoas, que viram ali a chance de ter um bem; o maior exemplo é o carro.

Curitiba, que teve seu Plano Diretor direcionado a pensar no espaço urbano de maneira mais fluida, priorizando o transporte público, acabou crescendo e se viu diante de um sistema de transporte deficitário, que já não tem condições de comportar de maneira satisfatória o grande número de passageiros que carrega por dia. Diante deste cenário, o quadro foi se tornando favorável ao uso do carro como o principal meio de transporte do cidadão. O grande problema é que essa matemática não fecha e a cidade cobra essa conta.

Segundo dados recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Curitiba tem população estimada em 1.879.355 pessoas. Em janeiro deste ano, o Departamento de Trânsito do Paraná (Detran-PR) apontou que a capital do estado tem uma frota de 1.406.049 veículos circulando. O Paraná tem ainda a terceira maior frota do Brasil, somando carros, motos, ônibus e caminhões (6.489.289), atrás apenas de São Paulo (25,7 milhões de veículos) e Minas Gerais (9,4 milhões).

É preciso pensar em alternativas para que a cidade não entre em colapso. Por isso, precisamos falar sobre mobilidade urbana. O que não significa apenas trocar o carro pela bicicleta, mas sim fazer uso de modais de maneira sustentável e inteligente. Além disso, é preciso enxergar o consumo de outra forma.

A colaboração permite opções inteligentes e experiências únicas, e o dinheiro é apenas uma consequência disso

Diferentemente daquilo que foi proposto pelo governo federal, o consumo consciente vem ganhando cada vez mais espaço e a economia do compartilhamento toma força. Em momento de recessão, como o que vivemos agora, essas ideias fazem ainda mais sentido, mesmo que este não seja o ponto focal do compartilhamento.

A colaboração permite opções inteligentes e experiências únicas, e o dinheiro é apenas uma consequência disso. A crise tira as pessoas da zona de conforto, faz com que elas reflitam sobre o futuro e, automaticamente, ativa questionamentos sobre bens que acumulamos e a real necessidade dessas posses.

Um exemplo simples pode ser representado por uma furadeira. Geralmente, usamos essa ferramenta uma vez e a guardamos durante um longo período. Em vez de comprar uma furadeira, é possível compartilhar o objeto com seu vizinho e ainda pagar um valor bem mais em conta pelo objeto que comprando um novo. Além da economia, uma rede de relacionamentos é ativada e essa lógica pode ser aplicada na mobilidade urbana.

As pessoas vivem nos grandes centros, trabalham próximas umas às outras, mas todos os dias saem sozinhas com seus carros para o trabalho, enfrentando longas horas de trânsito. A conta que fazem é que é mais vantajoso sair sozinho em seu veículo que encarar o transporte público lotado, sem se dar conta de que o gasto disso para toda a sociedade, incluindo ele mesmo, é muito alto.

Por isso, a economia colaborativa propõe tornar a posse mais inteligente, ao transformar o compartilhamento de objetos entre pessoas em negócio: se você tem e não está usando, pode emprestar para quem precisa e ainda ser pago por isso. O benefício financeiro da cultura do compartilhamento é óbvio, mas existe mais além disso. Compartilhar, mesmo que em forma de negócio, é uma oportunidade de ser generoso, confiar nas pessoas, conhecer gente nova e abrir portas. Às vezes é preciso haver uma crise para abrirmos mão de algo e só então comprovar que é o melhor a ser feito.

Guilherme Nagüeva é responsável pelas estratégias digitais do Fleety, primeira empresa de compartilhamento de carros entre pessoas da América Latina.
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