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No dia 21 de julho, a Gazeta do Povo publicou uma reportagem sobre a criação de consórcios de Instituições de ensino superior com o objetivo de discutir métodos de ensino inovadores. Com certeza, devemos receber com alegria o fato de que essas instituições estão repensando sua ação, buscando uma "nova" configuração para o processo ensino-aprendizado. Afinal, o modelo de ensino superior citado na reportagem, com mera transmissão acrítica do conteúdo pelo professor, que tem origem na universidade medieval, realmente precisa ser reavaliado.

A instituição de ensino superior (IES) em que atuo como coordenadora pedagógica de graduação, embora não participe do consórcio referido no artigo da Gazeta, também tem uma contribuição significativa a dar neste sentido. Desde 2010 os currículos de todos os cursos da graduação presencial foram reestruturados, tendo por referência o conceito de Unidade Temática de Aprendizagem (UTA). Nesta lógica, a ordem das disciplinas não é linear (ex.: Álgebra I, Álgebra II etc.), mas de acordo com "temas" que se pretende desenvolver a cada semestre. Esta organização favorece a interdisciplinaridade e a contextualização, tão necessárias à atuação profissional na atualidade e premissas da organização curricular no ensino superior segundo as Diretrizes Curriculares emanadas pelo Ministério da Educação e Cultura.

A implantação desses currículos não é isenta de problemas e contradições, mas no momento atual, em que as primeiras turmas que estudaram nesta organização estão se formando, é possível perceber vários avanços, assim como pontos a serem aperfeiçoados. Esta organização curricular está subordinada a uma determinada concepção de ensino: a de desenvolvimento de competências para a atuação profissional, que foi a primeira de várias ações com o objetivo de reestruturar o processo ensino-aprendizagem.

Em 2012 foram lançados pela nossa IES cinco cursos superiores de tecnologia e uma licenciatura usando, em 100% das atividades, a metodologia da sala de aula invertida (Flipped classroom), associada ao forte uso das diversas possibilidades abertas pelo uso intensivo da tecnologia na área educacional. Estes cursos seguem a lógica do Blended learning, expressão que nos remete ao híbrido, misturado, e que indica a diluição das fronteiras entre ensino presencial e a distância.

A utilização da "sala de aula invertida" coloca o estudante como sujeito ativo. Cabe-lhe estudar de maneira autônoma os conceitos-base das disciplinas. Esta etapa, de transmissão do conhecimento acumulado pela humanidade, é propiciada por meio de livros, videoaulas, filmes, textos, "rotas de aprendizagem", atividades de autoavaliação, fóruns e chats, oferecidos ao aluno por meio das diversas tecnologias hoje disponíveis. Nos encontros presenciais (dois por semana), os alunos trabalham em equipes, resolvendo problemas práticos para os quais os conteúdos estudados individualmente sejam necessários. Para a resolução das situações-problema, os alunos contam com a presença de professores, mas que desempenham um novo papel: de mediadores, instigadores, orientadores de pesquisa, catalisadores de discussões.

A experiência de dois anos com esta metodologia tem proporcionado aos que dela participam – professores e alunos – uma mudança significativa de postura. O aluno sai da postura passiva, pois logo percebe que, se não fizer o autoestudo, não terá como participar das atividades presenciais de resolução de problemas. O professor, passada a fase em que se sente perdido "sem dar aula", percebe a riqueza do processo e o avanço do aluno, o que o motiva a se colocar, cada vez mais, "ao lado" dele como alguém que tem mais experiência e conhecimento e pode ajudar, e não como alguém "acima" dele, inquestionável e sabedor de tudo.

Obviamente nem tudo são flores! Há alunos que têm dificuldades com esta postura mais autônoma; o professor precisa ter um conhecimento mais aprofundado da área profissional para poder ajudar os alunos na resolução de problemas (são interdisciplinares); é preciso avançar rumo à formulação de situações-problema cada vez mais instigantes. Enfim, há muito o que fazer, mas esta é a riqueza da área de educação: trabalhar com o inconcluso, com a possibilidade, com a aprendizagem constante das pessoas.

Inge Suhr, doutora em Educação, professora e coordenadora pedagógica do Centro Universitário Internacional Uninter

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