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A Copa não é sobre futebol, é um evento de encontro de pessoas. Vamos canalizar as energias para promover melhorias na cidade, através dos cidadãos

Nossos organizadores da Copa conseguiram uma proeza: transformar uma limonada em um limão. Tudo indicava uma grande festa. A divulgação máxima da marca Brasil no mundo. Uma oportunidade que aparece a cada 60 anos para um país: receber uma Copa do Mundo de futebol.

Passados mais de quatro anos da indicação do Brasil para a Copa 2014, a organização do evento mostrou resultados pífios. Uma mistura de má gestão, de usos inadequados de dinheiro público e de jogo político empurraram o evento para desorganização e descomprometimento. A experiência com a Marca Brasil pode ficar aquém do que a sociedade desejava ao realizar o evento.

Ao escolher o Brasil em 2007, a Fifa já avisara que seriam necessárias oito sedes. Um jogo político pressionou para que fossem escolhidas 12 cidades. Sabemos hoje que do ponto de vista de logística operacional, apenas três cidades podem receber o evento.

Prometemos muito e entregamos pouco. São facilmente identificáveis deficiências em hotelaria, microtransporte (como táxis) e em vários outros setores.

Ironicamente o correto teria sido reduzir o número de cidades- sede e concentrar recursos em poucas. Isso deveria ser feito utilizando três critérios: viabilidade econômica dos estádios (pós-Copa); participação mínima (ou nula) de recursos públicos; e desejo (engajamento) da população em receber a Copa.

Os exemplos das cidades de Manaus (AM), Cuiabá (MT) e Natal (RN), todos custeados integralmente com dinheiro público, mostram como esses critérios foram ignorados. Essas cidades receberão apenas quatro jogos da Copa cada, a um custo de mais de R$ 100 milhões por jogo.

As três cidades têm em comum o fato de estarem em estados que não têm tradição no futebol. Nenhum deles possui um time na série A do Campeonato Brasileiro. Já na série B, apenas o Rio Grande do Norte tem um representante: o ABC de Natal. Seus jogos têm público médio pagante inferior a 3 mil pessoas.

Interessante perceber que pelos dois primeiros critérios apresentados, a cidade melhor preparada para receber a Copa seria Curitiba. Curiosamente Curitiba vai receber apenas quatro jogos e ficou fora da Copa das Confederações e da segunda fase da Copa. Mais evidências de como foram utilizados critérios políticos e não técnicos na definição das cidades.

Há, entretanto, uma oportunidade única para Curitiba mostrar ao mundo que é possível receber bem os turistas, sem utilizar dinheiro público, sem precisar da Fifa e deixando um legado pós-Copa. Gerar envolvimento na comunidade num projeto para Curitiba 2014.

São microatividades que podem ser realizadas pela comunidade, em projetos simples como: hotelaria colaborativa (bed&breakfast), microtransportes (bicicletários), zeladorias de ruas e muitos outros projetos feitos em cocriação pelas comunidades.

Iniciativas que independem de CBF e Fifa e que contribuem para gerar envolvimento da sociedade. Com a vantagem adicional de deixarem um legado para a cidade.

A Copa não é sobre futebol, é um evento de encontro de pessoas. Vamos canalizar as energias para promover melhorias na cidade, através dos cidadãos. A Copa é só um pretexto para mobilizar as pessoas a repensarem sua cidade. Trabalhando em rede, podemos evitar que transformem a limonada em um limão.

Ramiro Gonçalez, mestre e pesquisador em Ciências da Comunicação na USP, é professor do Ceppad – UFPR

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