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A Copa das Confederações trouxe duas boas notícias aos brasileiros e brasileiras: a cada vez melhor atuação da seleção brasileira e a reação da população a tudo que está posto no cenário político nacional e que não nos representa. Ainda que torcedores e manifestantes divirjam sobre a realização da Copa, o sentimento comum que envolve o cenário social da nação é de inconformidade com a corrupção, impunidade e deficiência em serviços básicos, num país com regime tributário tão pesado. Construir hospitais em vez de estádios resultará em obras – independentemente do objetivo – superfaturadas. É disso que estamos cansados.

Há algumas observações que podem contribuir com esse relevante debate. Os recursos destinados à construção de estádios provêm, em boa parte, da linha de financiamento do BNDES. O corpo técnico do banco de fomento aprova ou rejeita a proposta para o crédito através de análise do modelo de negócio, que deve apresentar fluxo de receitas, originado pelo aproveitamento do estádio com realização de eventos: jogos, shows; aluguel de espaços comerciais e demais atividades multiuso. Em Porto Alegre, o Sport Club Internacional formou parceria estratégica privada, onde cede para exploração espaços VIPs, bares, lojas, restaurante e publicidade do estádio por período determinado, permanecendo com a bilheteria, receitas de transmissão e gestão dos seus sócios. A parceira deve gerar receita suficiente com os ativos que explora para retornar ao BNDES e aos seus próprios investidores o recurso tomado.

A maior interrogação popular nos projetos dos estádios é a relação estabelecida entre receitas e despesas, investimentos e manutenção desses grandes equipamentos urbanos. Como vai rodar o modelo comercial? Quais são as receitas projetadas, com que atividades e em quanto tempo o projeto se paga? Cabe aos responsáveis indicar o formato de operação que confirme as mesmas projeções de mercado que viabilizaram a tomada de recurso no BNDES.

É válido salientar o potencial brasileiro para o mercado de futebol e as boas referências obtidas na Alemanha, que dobrou sua média de público na liga nacional depois da Copa de 2006. Tanto foi positivo o legado que a final da Champions League 2013 foi protagonizada por duas equipes alemãs. Não por acaso, em sete anos o mercado aqueceu, estádios confortáveis e com funções múltiplas atraíram mais público, clubes montaram boas equipes, e veio o resultado. Por que não podemos captar essas mesmas oportunidades? E na Alemanha os estádios também terminaram custando mais que o previsto. A diferença está na correta responsabilização dos representantes.

O benefício de conhecimento vai além de nossas fronteiras regionais. Se por um lado os projetistas de um vultoso local de reunião de público, com alto padrão em conforto e segurança, são de Porto Alegre, e a estrutura metálica, item que representa 30% da intervenção no Beira-Rio, vem da Serra Gaúcha, por outro lado temos paulistas e mineiros dentre os principais gestores da obra, e a gerenciadora contratada pelo Internacional para acompanhar o desenvolvimento da obra é de Curitiba.

Nenhuma das ponderações aqui citadas pretende superar angústias sociais que perduram por anos e anos, nas filas dos postos de saúde ou no caos da mobilidade urbana. Pois não devemos escolher entre alternativas de desenvolvimento socioeconômico e saneamento básico. Merecemos os dois. Por isso, averiguar com o poder público antes, durante e depois da Copa quais os caminhos de sucesso projetados para as arenas é tão importante quanto cobrar melhores condições do ensino fundamental.

Diana Oliveira é segunda vice-presidente do Sport Club Internacional, de Porto Alegre.

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