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Há uma visão pouco integrada da gestão ur­­bana de Curitiba e RMC, baseada ainda em in­­teresses políticos e decisões centralizadas, pois pouco se consulta especialistas da comu­­nidade para seus problemas

Uma comissão formada por instituições governamentais, universidades e organizações não governamentais, discute diretrizes de sustentabilidade para a Copa mundial de futebol de 2014, que terá Curitiba como uma das cidades sedes. Com a definição da Arena da Baixada para receber os jogos e se realizar a chamada "Copa Verde", há um trabalho hercúleo a se fazer, tendo em vista as últimas notícias que colocam em dúvida o título de cidade mais sustentável do mundo outorgado à capital paranaense ainda neste ano. Apresentam-se aqui apenas três gargalos que Curitiba deverá resolver: ter ar mais limpo, água e esgoto tratados satisfatoriamente na capital e região metropolitana e um destino adequado aos seus resíduos.

A Copa de 2014 deverá ter baixas emissões de carbono e exigirá mobilidade e acessibilidade sustentáveis para milhares de pessoas que se deslocarão durante os jogos. Nesse sentido há uma preocupação quando examinamos os dados do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE), que, através dos Indicadores de Desenvolvimento Sustentável (IDS) de 2000 a 2008, aponta Curitiba e região metropolitana como campeã de picos de emissões de poluentes. Embora fiquemos atrás de São Paulo e Rio de Janeiro em relação à concentração média de poluentes, as medições mostram que a Grande Curitiba bate de longe essas cidades quando se mede o número de violações dos limites tolerados para a poeira, monóxido de carbono, dióxido de enxofre, dióxido de nitrogênio, ozônio e partículas inaláveis.

A secretária de Meio Ambiente de Curitiba alega que esses picos estão baseados nas estações de Colombo e Araucária e não na cidade de Curitiba. O fato é que a cidade não possui medidores suficientes para se ter certeza de que também não venham ocorrendo esses índices na região central e nos nossos bairros, tendo em vista que a população está chegando a 1,9 milhão de pessoas na capital e o fato de já termos um carro para cada 1,53 pessoa! Isso nos coloca no topo do ranking do número de carros per capita se forem levadas em conta as cidades com mais de 400 mil habitantes.

Pouco foi investido para renovar sistemas inteligentes de transporte de massa que já tínhamos e em outros, como as ciclovias. O resultado disso é que alguns estudos apontam congestionamentos em Curitiba acima da média de São Paulo.

Em relação a água e esgoto, a Sanepar anunciou neste ano que Curitiba já atende a 92% da população com saneamento, sendo o maior índice entre as capitais. Levar esse mesmo índice para aos municípios de região metropolitana de Curitiba é o grande desafio nos próximos anos. O mesmo IDS divulgou em 2008 que o Rio Iguaçu, que corta todo o estado e nasce aqui na região metropolitana, é o segundo rio mais poluído do Brasil. Atualmente, aproximadamente 80% da poluição do Rio Iguaçu é gerada por esgoto doméstico e poluição difusa e 20% por esgoto industrial. Para isso há somente uma fórmula, que ultrapassa a comissão da Copa, que é há de se criar incentivos para polos de desenvolvimento e educação no interior do estado, evitando a migração para a capital.

Já no caso dos resíduos, ainda não vemos uma solução sustentável para o destino de todo o lixo de Curitiba e de mais 16 municípios da RMC, desde que se decretou o esgotamento do Aterro da Caximba, tendo seu prazo final de fechamento para o dia primeiro de novembro deste ano. Depois de meses de batalhas judiciais e ambientais entre estado, município e empresas interessadas no grande negócio de 2,4 mil toneladas diárias de lixo produzidas, o fato é que não temos uma saída ecoeficiente para o problema, repetindo velhas propostas que não contemplam, por exemplo, aproveitamento do gás metano de futuros aterros, usinas de compostagem e vermicompostagem (minhocultura) para tratar e aproveitar o lixo orgânico.

O quadro acima denuncia uma visão pouco integrada da gestão urbana de Curitiba e RMC, baseada ainda em interesses políticos e decisões centralizadas, pois pouco se consulta especialistas da comunidade para seus problemas. Esperamos que a comissão da Copa 2014 possa ter alguma influência nas próximas decisões sobre Curitiba e região metropolitana, podendo se inaugurar uma nova era de inovação em planejamento urbano, que colocou a capital do Paraná como referência mundial no passado.

Eloy F. Casagrande Jr., Ph.D. em Recursos Minerais e Meio Ambiente, é pós-doutor em Inovação Tecnológica e Sustentabilidade, Coordenador do Escritório Verde e professor da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR).

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