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Brazil’s Gold Medal for Corruption” – em português, “Medalha de ouro em corrupção para o Brasil” – é o título do editorial de 6 de junho do jornal norte-americano The New York Times. No mesmo dia, o espanhol El País publica: “Furacão Lava Jato atinge partidos tradicionais a quatro meses da eleição. Conforme a investigação avança, a desconfiança da população com os partidos aumenta”. As afirmações estampadas nos maiores jornais do mundo não podem ser desprezadas.

Na Operação Lava Jato são investigados políticos do PP, PT, PMDB, PSDB e PTB. Ainda em 2012, o Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral divulgou um relatório listando os partidos com maior número de membros cassados por corrupção, desde 2000. A lista, feita com base em dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), cita 21 legendas – praticamente dois terços do total de partidos políticos ativos no Brasil. Os dados levam à conclusão de que a corrupção é o modus operandi na política brasileira. Honestidade é ponto fora da curva.

Não há ordem nem progresso quando o dinheiro do contribuinte atende a tudo, exceto a própria população

A insana luta ideológico-partidária que vigorou no país até o afastamento da presidente Dilma Rousseff – a ignorante guerra-fria brasileira – congelou. Quem defendia a “santidade vermelha” desanimou com o caminhar da Lava Jato. Os que queriam a “salvação azul” viram os paladinos da ética e da moral protagonizando o mesmo espetáculo escuso que, ainda ontem, estava em cartaz com estrelas do antigo elenco. Mesmo frequentando o teatro a cada dois anos, o Brasil ainda não entendeu: peça de tragédia não se torna romance quando mudam os atores.

Os direitos políticos, almejados durante a ditadura militar e conquistados com a sua queda, parecem ter perdido o sentido. A corrupção, entranhada na estrutura político-democrática brasileira, anula as aspirações de quem vai às urnas. Os sufrágios parecem servir apenas para legitimar as atrocidades ao erário em favor de interesses pessoais ou partidários. Corrupto não tem legenda: atua em todas elas, ao passo que sangra as essências partidárias e subverte o genuíno princípio democrático da República.

Para emergir do lamaçal em que se encontra, o país precisa de uma reforma política imediata. A medida tem de funcionar como um divisor de águas, coibindo, principalmente, a ação de interesses particulares em detrimento das necessidades nacionais. Profissionalização das administrações públicas, fortalecimento dos órgãos controladores e a real independência dos poderes também devem figurar nesse pacote.

Corrupção é a “modalidade olímpica” da qual o Brasil não deseja tomar parte. O que a nação anseia com muita celeridade é ver aplicado o seu lema: ordem e progresso. Quando bilhões escoam da Petrobras ou de quaisquer um dos esquemas de pilhagem, evidenciados ou velados, a bandeira nacional sangra. Não há ordem nem progresso quando o dinheiro do contribuinte atende a tudo, exceto a própria população. Não há ordem nem progresso quando os hospitais não salvam vidas, as escolas não educam e a segurança não assegura a integridade física, o patrimônio e, muito menos, o bem-estar dos brasileiros.

É hora de recobrar a consciência individual, vislumbrar o entendimento coletivo e promover o restabelecimento do cerne nacional. “Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos”, diz a Constituição de 1988. É hora de atender a Carta Magna e respeitar a pátria amada, o Brasil!

Sebastião Luiz de Mello é presidente do Conselho Federal de Administração (CFA).
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