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O nó górdio, que necessita ser cortado, é o da falta de com­­promisso da classe política em representar o bem comum e atuar por interesses pessoais, por vezes con­­fessáveis, e na maior parte das vezes por interesses in­­confessáveis

A memória histórica exige dos cidadãos paranaenses, em honra à construção democrática do nosso Estado, a reação serena, porém severa em repúdio à aviltante atuação de parte expressiva dos deputados estaduais que hoje comandam os destinos da Assembleia Legislativa. Com a sua oposição ao afastamento da atual mesa dão aval ao esquema dos diários secretos. Como somente depende da decisão dos parlamentares o afastamento dos dirigentes da mesa atual, verifica-se o consentimento para que não haja transparência administrativa. O eleitor tem a opção de cortar de vez o pacto da venalidade, que se intensifica a cada dia, manifestando, nas eleições de outubro próximo que: não quer, não permite, não transige e repudia os atos dos que prostituem o legislativo paranaense.

Cortar os vínculos perversos que ali se atam à mesa diretiva se assemelha àquela lenda que se conta sobre a sucessão do rei da Frígia (Ásia Menor) que não tinha deixado herdeiro e o oráculo tinha anunciado que o sucessor entraria na cidade em um carro de bois. Tal profecia se concretizou com a coroação do camponês Górdio. Este para não esquecer o seu passado modesto resolveu atar a carroça com uma corda à coluna do templo de Zeus e arrematou o feito com um nó complicadíssimo de desfazer. "Górdio reinou por muito tempo e, quando morreu, seu filho Midas assumiu o trono. Midas expandiu o império, porém, ao falecer não deixou herdeiros. O oráculo foi ouvido novamente e declarou que quem desatasse o nó de Górdio dominaria toda a Ásia Menor. Quinhentos anos se passaram sem ninguém conseguir realizar esse feito, até que em 334 a.C Alexandre, o Grande, ouviu essa lenda ao passar pela Frígia. Intrigado com a questão, foi até o templo de Zeus observar o feito de Górdio. Após muito analisar, desembainhou sua espada e cortou o nó. Lenda ou não o fato é que Alexandre se tornou senhor de toda a Ásia Menor poucos anos depois."

O nó górdio, que necessita ser cortado, é o da falta de compromisso da classe política em representar o bem comum e atuar por interesses pessoais, por vezes confessáveis, e na maior parte das vezes por interesses inconfessáveis.

O nó górdio deve ser cortado, como se cortam as chamas de um incêndio que pode se propagar na nossa própria casa. Necessária é a firmeza para cortar o nó górdio das raízes da erva daninha da corrupção, que se estende a muitas ligações destes parlamentares com forças poderosas e vivem à custa dos impostos do povo.

O nó górdio precisa ser cortado em virtude da tentativa de obstruir o trabalho do Ministério Público para identificar os culpados dos ilícitos ali cometidos.

O nó górdio pode e deve ser cortado, porquanto "a liminar que decretou a indisponibilidade dos bens do presidente da Assembleia do Paraná, Nelson Justus (DEM), e do primeiro-secretário da Casa, Alexandre Curi (PMDB), é categórica: eles cometeram atos de improbidade administrativa."

Não parece ser difícil cortar o nó górdio fazendo a renovação consciente e lúcida para "O Paraná que queremos", descartando nas próximas eleições pelo menos 50 deputados estaduais paranaenses que vêm teimando em manter a herança de caciques corruptos que fizeram escola na Assembleia.

O corte deste nó górdio torna-se um imperativo do bem comum. Como poderíamos deixar que médicos perversos cuidassem da saúde das pessoas? Ainda maior é a responsabilidade pela direção e saúde da coisa pública para a deixarmos entregue a políticos que estão dispostos a tudo servindo-se do mandato para interesses escusos.

A solução simples e eficaz é a de fazer sentir aos parlamentares que ainda não perceberam que estão sobrando, a força do voto consciente dos cidadãos. Necessário é que, nestes três meses que antecedem às eleições de outubro, os mesmos parlamentares de hoje sintam um frio na barriga. Nada melhor que o anúncio da morte para a vida política com um golpe de espada bem desferido nas urnas de outubro a fim de cortar o nó górdio da desfaçatez e da prevaricação.

Paulo Sertek, doutor em Educação pela UFPR, é autor de Responsabilidade Social e Competência Interpessoal, Empreendedorismo e Administração e Planejamento Estratégico. paulo-sertek@uol.com.br

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