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Nós, brasileiros, recebemos um presente do Papai Noel das estatísticas: somos agora a sexta maior economia do mundo, de acordo com um respeitável instituto de pesquisas da Inglaterra. A notícia não caiu bem entre os britons: o próprio chefe da pesquisa se mostrou surpreso, declarando que perder no futebol para os brasileiros não era novidade, mas perder na economia...

O Daily Mail ouviu vários especialistas e, como não podia deixar de acontecer, um deles já declarou que a grande vítima do progresso brasileiro é a Amazônia, cuja fauna e flora estão sendo dizimados pela ganância. Por mais que a Amazônia não tenha sido poupada da exploração predatória, isso é um exagero grotesco e demonstra enorme desinformação geográfica a respeito de nosso país. Outro, resignado, declarou que a emergência de países como o Brasil pode ser uma dádiva para o Reino Unido, pois o continente europeu está definitivamente esclerosado, enquanto que a economia norte-americana vai passar muito tempo lambendo suas próprias feridas; para ele, o que a economia britânica deveria fazer é buscar oportunidades em países como o Brasil para embarcar nessa nova canoa de prosperidade o mais rápido possível, vendendo produtos e serviços especializados dos quais nosso país é carente.

Pois é, já somos uma das maiores economias do planeta. Independentemente de qualquer outra coisa, é uma conquista gigantesca para um país que até a década de 50 do século 20 só tinha uma siderúrgica e importava enxadas, bicicletas, manteiga e frutas. Hoje somos grandes produtores de bens industrializados de média sofisticação e não fazemos feio nos mercados mais rarefeitos como a indústria aeronáutica. A agroindústria brasileira é uma das mais eficientes do mundo e apresentamos níveis de produtividade iguais ou superiores a qualquer outro país.

Isso significa que já podemos nos considerar como parte do mundo desenvolvido? Ainda não. O processo de desenvolvimento é muito mais amplo do que o simples crescimento econômico, embora o que esteja acontecendo no Brasil seja bem mais do que o mero crescimento da economia. Na realidade, o processo que estamos vivendo é muito mais rico e complexo porque demonstra uma invejável capacidade coletiva de adaptação e de superação de obstáculos por parte dos brasileiros comuns. Nossa memória é fraca e, portanto, já estamos nos esquecendo das provações a que fomos e somos submetidos: décadas de inflação descontrolada, que chegou a mais de 4.000% ao ano; protecionismo estatal a empresas e empresários ineficientes; descaso crônico com a educação e a saúde da população; décadas de tabelamentos, congelamentos, "tablitas" e planos anti-inflacionários com nomes sugestivos como "verão", "primavera", "feijão com arroz" e "cruzado", que fizeram a celebridade de muitos economistas antes que os resultados de suas alquimias os condenasse ao ridículo.

O Brasil não apenas cresceu; desenvolveu também, aos trancos e barrancos, alguns nichos de excelência, ampliou sua mobilidade social vertical, criou uma elite empresarial e uma força de trabalho que, apesar da baixa escolaridade formal, foi capaz de utilizar tecnologias de produção que são utilizados nos países desenvolvidos sem qualquer diferença de rendimento.

Mas o desenvolvimento é ainda mais do que isso. Amartya Sen, o grande economista indiano, faz uma distinção entre a essência do desenvolvimento e o comportamento de alguns fatores que são importantes para ele, como o crescimento da renda e do produto, o desenvolvimento tecnológico etc. Para Sen, um povo só pode se considerar desenvolvido quando e se tiver se libertado de algumas privações para poder efetivamente dar à sua vida o sentido e a direção que deseje: "O desenvolvimento requer que se removam as principais fontes de privação da liberdade: pobreza e tirania, carência de oportunidades econômicas e destituição social sistemática, negligência dos serviços públicos; e intolerância ou ingerência excessiva de Estados repressivos".

Já mostramos ao mundo que podemos ser grandes. É hora de concentrar a energia da nação brasileira para mostrar a nós mesmos e ao resto do planeta que também podemos ser livres.

Belmiro Valverde Jobim Castor é professor do Doutorado em Administração da PUCPR.

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