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Quando o arquiteto Le Corbusier, em 1925, lançou um ambicioso plano chamado Plan Voisin que previa a destruição de uma parte de Paris para construir arranha-céus, chocou o mundo mostrando o espírito da época que se iniciava. Em 2009, quando os 105 km² de área de Paris, há muito insuficientes para abrigar o agitado estilo de vida dos 2 milhões de habitantes da cidade que se misturam com número maior de turistas, o presidente francês, Nicolas Sarkozy, convidou um grupo de arquitetos mundialmente famosos para reimaginar Paris 2030, transformando-a, segundo a proposta, na cidade mais sustentável do mundo.

Concedendo "absoluta liberdade de sonhar", desde que as propostas fossem sustentáveis, concretas e exequíveis, os três grandes temas escolhidos foram o desenvolvimento sustentável, a mobilidade e a extinção dos guetos ligando a periferia – onde vivem 6 milhões de pessoas – ao centro da cidade. A locomoção diária para o trabalho é um grande transtorno para milhões de pessoas, só para resolver isso serão investidos 35 bilhões de euros em obras de melhoria dos sistemas de transporte da capital francesa.

Do outro lado do Atlântico, em Nova Iorque, o prefeito Michael Bloomberg lançou o projeto "NYC 2030" reunindo um grupo de arquitetos urbanistas e empresários, visando transformar a sua cidade no melhor centro cultural urbano sustentável do mundo. Aproveitando o pacote nacional do governo Obama que injetou US$ 80 bilhões em tecnologias limpas, Nova Iorque articula-se para continuar atraindo a atenção do mundo, aquecendo a indústria do turismo. O Empire State Building, prédio símbolo de Nova Iorque, está sendo recuperado para ser paradigma da sustentabilidade.

Cidades de todo o mundo montam planos para 2030 conciliando benefícios do dinamismo e da criatividade, próprios dos grandes centros urbanos, com os graves problemas de mobilidade, poluição, criminalidade e pobreza. Abu Dhabi 2030, nos Emirados Árabes; Sidnei 2030, na Austrália; Sacramento 2030, capital da California; Barcelona 2030, na Espanha; e, bem mais perto, Cairu, único município arquipélago do Brasil, situado no Baixo Sul da Bahia e famoso pelo distrito de Morro de São Paulo que organizou, com apoio do BID, o Projeto Cairu 2030, transformado em lei municipal foi adotado pelo PNUD como integrante das Metas do Milênio da ONU.

No último meio século a população urbana mundial quase quadruplicou, de 732 milhões em 1950 para mais de 3,8 bilhões atualmente. A África tem 350 milhões de moradores urbanos, mais do que as populações do Canadá e Estados Unidos juntos. Só Ásia e África deverão dobrar sua população urbana para cerca de 3,4 bilhões em 2030 enquanto 88% do crescimento populacional entre 2000 a 2030 será urbano em países de baixa e média renda. Promover o desenvolvimento sustentável de cidades ricas, com recursos financeiros abundantes talvez seja mais fácil do que promover o crescimento sustentável daquelas com acentuadas desigualdades.

Os relatórios anuais do WWI-Worldwatch Institute, Estado do Mundo, produzidos há 28 anos consecutivos em mais de 30 idiomas, têm divulgado globalmente inovações em cidades como Rizhao, na China, onde aquecedores solares foram instalados em 99% das residências, enquanto semáforos são iluminados com energia fotovoltaica em Curitiba, cujo sistema de transporte foi exemplo para Bogo­­tá e outras cidades da Europa, América do Norte e Ásia.

A Conferência Internacional de Cidades Inovadoras 2010, que acontece esta semana em Curitiba, promovida pela Federação das Indústrias do Estado do Paraná, reunirá especialistas internacionais em sustentabilidade para o lançamento do Projeto Curitiba 2030. A liberdade de sonhar também traz desafios. Podemos duvidar da realização das ideias futuristas, mas, se propostas com qualidade e ousadia não forem implementadas, as cidades correm o risco de ficarem estagnadas, presas ao passado, perdendo a oportunidade de alinhar-se com a qualidade de vida sonhada e conquistada pelas cidades inovadoras ao redor do mundo.

Eduardo Athayde é diretor do WWI-Worldwatch Institute no Brasil www.worldwatch.org.br. Email:eduardo@uma.org.br

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