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Por volta de 1905, o governo francês pediu a dois psicólogos, dr. Alfred Binet e dr. Teodore Simon, que fizessem estudos e elaborassem um método pelo qual se pudessem selecionar as melhores inteligências. Os testes Binet-Simon fizeram tanto sucesso como método de seleção que ganharam o mundo, e todos nós os conhecemos como "testes de Q.I." ou quociente de inteligência.

Ainda na metade do século 20, os estudiosos deram-se conta de que para ser bem-sucedido na vida era necessário algo mais do que capacidade intelectual. Pelas mãos de um psicólogo, professor de Harvard, dr. Daniel Goleman, tomamos contato com a "inteligência emocional". Essa seria a habilidade de sermos bem-sucedidos no relacionamento interpessoal e, portanto, fator de êxito na profissão e no ambiente social.

O dr. Goleman fala-nos de algo que podemos denominar "o espaço vital", aquele tempo que separa o que nos acontece e a nossa reação. Esse espaço vital pode se constituir de um segundo, um minuto, uma hora, um dia ou um ano. Não importa quanto tempo decorra, o fato é que, durante esse tempo, construímos nossa reação aos eventos que nos afetam, traçamos nosso destino e sofremos as conseqüências da nossa forma de ser.

O "espaço vital" do dr. Goleman me ocorreu por conta do episódio envolvendo o jogador Zidane na partida final da Copa do Mundo de Futebol. Aquele que foi considerado o melhor jogador da competição, e estava jogando a sua última partida profissional diante dos olhos do mundo, disparou uma cabeçada violenta no peito do zagueiro adversário, com a bola fora do jogo. O grande craque cometeu um ato desatinado ao reagir, em poucos segundos, a uma provocação verbal e lançou uma pá de lama no último ato da sua bela carreira. Ele foi expulso, desfalcou a equipe da França e desceu melancolicamente pelo túnel do estádio, passando cabisbaixo pela taça de campeão, que poderia ser da sua pátria caso ele continuasse em campo.

Seguramente todos nós já tivemos, e temos, atitudes semelhantes a essa do grande craque, tanto nos assuntos corriqueiros como nos assuntos mais relevantes da vida. Talvez não nos damos conta sobre o quanto essas reações, construídas no espaço vital, afetam nossa vida familiar, social e profissional. Muitos de nós já fracassamos por culpa de reações destemperadas, impróprias e impensadas. Você já se pôs a avaliar quantas reações ruins dessas já teve, das quais se arrepende e que, se houvesse se controlado e esperado um pouco mais, certamente não as tomaria?

Na sua obra Elogio da Loucura, Erasmo de Rotterdam afirma que o ser humano vive sob dois senhores: a razão e o sentimento. A tudo o que não seja cientificamente lógico e racional ele chama de "loucura", isto é, comportamento que está no campo do "sentimento". Diz ele que a "loucura" é a responsável pela própria vida e pelas realizações da humanidade. Um homem não conseguiria suportar a vida se fizesse e realizasse tudo apenas com base na razão. As emoções e o sentimento são, por definição, ilógicos segundo os padrões da chamada "razão científica". Portanto, não se trata de propor que jamais tenhamos reações com base no sentimento e na emoção. Não, isso não! Trata-se de buscar o equilíbrio entre razão e sentimento e não permitir que, por nunca controlarmos nossos destemperos emocionais, tenhamos reações que, no fundo, acabam por prejudicar a nós mesmos.

Portanto, é por sermos imperfeitos e por termos o direito de nos guiarmos também pela "loucura", isto é, pela emoção e pelo sentimento, que uma das mais nobres virtudes a serem perseguidas é a virtude do perdão. Somente a "razão do sentimento" permite-nos perdoar aos outros, virtude que devemos aprender a praticar, sobretudo porque precisamos desesperadamente que os outros a pratiquem em relação a nós.

José Pio Martins é professor de Economia e vice-reitor do Centro Universitário Positivo (UnicenP).

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